11.04.2013 Views

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

mesmo processo feito pelos bezerros, temos a criação de um poema que não apresenta<br />

nenhuma dificuldade de compreensão. Entendemos, pois, que Rivera quis de fato falar sobre a<br />

referida situação, uma vez que já desde o título ela é subentendida. Logo após os dois versos<br />

citados, vem o poema mostrando o processo industrial descrito:<br />

Na roda cronométrica<br />

o vidro cai o vidro avança<br />

jorra o leite<br />

a tampa tampa.<br />

Assépticas herméticas<br />

caminham latas<br />

coloridas<br />

sobre os ombros<br />

caminhando. (PP, p. 20-1)<br />

Trazem os versos o pari passu do trabalho mecânico, citando a exatidão da<br />

máquina ao tirar o leite da vaca, o momento do produto ser lançado para um recipiente e dali<br />

para as embalagens, e então estas sendo transportadas. Não há enigmas ou simbologias neste<br />

caso; o boi representa o simples animal de que nos aproveitamos para consumir o que ele<br />

produz. É o que acontece também em “Boi Empacotado”:<br />

Na casa de carnes<br />

o estoque vário<br />

para o almoço<br />

e a feijoada:<br />

o bucho fétido<br />

o mocotó<br />

o líquido fel<br />

do amargo boi. (PP, p. 11)<br />

Não querendo inferir o psicológico humano a partir dessas situações em que o<br />

gado bovino se encontra, Bueno de Rivera fala secamente sobre o processo de divisão da<br />

carne do animal para a venda e consumo humano. É o boi “frigorificado”, ou seja, passa ele<br />

por estágios de preparação em que sua carne vigorosa é reduzida a “tiras/ em moles nacos”;<br />

depois, é o boi acondicionado “Em sacos de plástico”. Visão realista, a crueldade da matança<br />

de tais animais é intensificada e exposta no poema, provavelmente com o propósito de chocar<br />

o leitor e assim chamar-lhe a atenção para esse fato.<br />

Também notamos uma visão sem adornos ou profundidade em “Matadouro<br />

Modelo”, pois temos basicamente a narrativa desde o momento em que o boi é levado para o<br />

abate, quando ele anda pelo “corredor/ do sacrifício”, até quando ele morre. São duras as<br />

palavras contidas nos versos:<br />

99

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!