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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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intimismo, é, portanto, uma das maneiras escolhidas pelo poeta para expressar os seus<br />

sentimentos artisticamente.<br />

125<br />

É a partir desse ponto de vista que surge para nós uma dialética, pois questionamo-<br />

nos se poesia intimista é então arte ou ótica pessoal – o que suscitaria inúmeros argumentos<br />

não previstos para o nosso estudo e, portanto, refutados de início para não incorrermos no erro<br />

de fugirmos do tema central. Citemos, tão somente para desenvolvimento do nosso raciocínio,<br />

a concepção de Massaud Moisés sobre a expressão do eu em poesia, uma vez que o referido<br />

crítico destaca a diferença existente entre o cidadão poeta e a voz do poema na forma artística<br />

havida. Para ele:<br />

[...] na medida em que o poeta se distingue do cidadão, a voz do poema equivale à<br />

do poeta. E dado que a voz do poeta é, pelo menos, um “eu” contíguo do “eu<br />

social”, podemos supor que a voz do poema seja igualmente um “eu”, agora<br />

insulado, livre de qualquer sujeição à origem, incluindo o “eu do poeta”. Esse “eu”<br />

do poema, também chamado “eu lírico”, “eu poético”, “eu fictício”, “sujeito-deenunciação”,<br />

“a primeira das três vozes do poeta”, “a mensagem voltada sobre si”,<br />

além de confirmar a idéia exposta no capítulo anterior, mediante a qual a poesia é a<br />

expressão do “eu”, pode ser entendido apenas como o reflexo do “eu do poeta”<br />

(integrado no binômio poeta-cidadão). Expressão do “eu” inscrito no poema, do “eu<br />

poético” equivalente ao “eu do poeta”, porquanto este somente existe no espaço dos<br />

textos que produziu. Do contrário, o “eu do poeta” seria uma abstração inútil; e não<br />

o é por concretizar-se nos poemas; a sua identidade é transmutada num “eu” que<br />

organiza a expressão, um “eu” que é, afinal de contas, a imagem do “eu do poeta”<br />

no espelho da página: o “eu do poeta” vê-se no poema, refletido num “eu” que ali<br />

se instala como “outro” simétrico. 135<br />

De acordo com o crítico literário, aquele que se encontra na obra de arte não é a<br />

respectiva pessoa que a realiza; é alguém diferente, já que uma obra literária é válida por si só,<br />

quer dizer, não necessita do escritor para que ela seja entendida ou para que seja considerada<br />

eficaz naquilo a que ela se propõe. Por isso é que acreditamos ser no ato de expor fatos e<br />

vivências suas, que o poeta Bueno de Rivera acaba por encontrar um estágio mais elevado do<br />

eu, um patamar em que sentimentos e vivências dos seres em geral se igualam: o poeta acaba<br />

por encontrar o universal através dessa arte profunda, que é a poesia. É no espanto sofrido<br />

com os simples acontecimentos do cotidiano, por vezes por ele mesmo vividos, que o poeta<br />

de Santo Antônio do Monte mostra-nos, em seus poemas, a grandiosidade da existência<br />

humana e a similitude que envolve as nossas vidas. Chegamos aqui, mais uma vez, ao ponto<br />

que caracteriza uma obra, como esclarece Umberto Eco, como “aberta”, pois que o gênero<br />

conotativo da poesia, mais que dar ao texto certa ambigüidade, abre-lhe possibilidades<br />

diversas de interpretações. Segundo o crítico, a poesia “se propõe estimular justamente o<br />

135 MOISÉS, Massaud. A criação literária. p. 49-50

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