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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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aquela situação. A poesia de Schmidt assemelha-se à de Rivera no momento em que aquele<br />

profere:<br />

Felizes os que partiram antes dos tempos chegarem.<br />

Felizes as raparigas mortas,<br />

As tranças floridas e as mãos rezando.<br />

Felizes as mães mortas e mártires.<br />

Felizes os que se foram antes de chegar. 53<br />

No exemplo citado, vemos que a temática constitui-se a mesma do poema anterior<br />

de Rivera, exaltando a felicidade de todos aqueles que faleceram, sejam eles natimortos,<br />

jovens ou adultos. Poema fúnebre, Schmidt o realiza de maneira a denegrir a existência em<br />

que estamos inseridos, elevando o caráter da morte.<br />

A poesia de Rivera, especialmente com a temática desenvolvida em suas duas<br />

primeiras obras, é impregnada da vertente trabalhada pelos integrantes do grupo Festa, “de<br />

convicções espiritualistas e inspiração simbolista”. 54 Apesar de trazer muito a figura da morte,<br />

retratar sofrimentos e amarguras, Rivera ainda espera encontrar a paz universal, a alegria<br />

utópica. É com entusiasmo juvenil que em “Manhã” ele acaba por se mostrar fraterno e<br />

confiante em um mundo novo, melhor do que esse em que ele vive:<br />

Amanhece no meu espírito.<br />

Sinto as alegrias, os afetos<br />

como corolas acesas.<br />

A gravata como um símbolo.<br />

As roupas leves conduzem<br />

o meu corpo pelas ruas.<br />

Vamos apagar o ódio<br />

da face dos semelhantes.<br />

Vamos rasgar a história.<br />

Façamos de conta, irmãos,<br />

que este dia tão puro<br />

é o primeiro do mundo! (MS, p. 24)<br />

Nesse poema, Rivera apresenta o grande prazer de se viver em um mundo<br />

imaculado, quimérico, onde a felicidade humana reinaria absoluta. É apenas uma sensação por<br />

ele vivenciada mentalmente, como o eu lírico deixa explícito já a partir do primeiro verso,<br />

nesse ato de amanhecer em seu “espírito”. No último verso, temos a utopia por ele idealizada,<br />

pois uma vida assim deveria ser tomada como o início de uma nova era, seria esse dia “o<br />

primeiro do mundo”. Este sentimento tão humanista, de amor abnegado e universal é similar<br />

53 LOANDA, Fernando Ferreira de. Antologia da moderna poesia brasileira. p. 300<br />

54 CANDIDO, Antonio & CASTELLO, J. Aderaldo. Presença da literatura brasileira: modernismo. p. 17<br />

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