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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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futuro, vendo conhecidos outros morrendo em uma guerra que em sua visão era banal,<br />

aparecem subjugados por essa força maior que eles. Assim sendo, o poeta os depreende como<br />

seres afogados, imersos nesse meio aquático, sem forças para resistir.<br />

174<br />

Apesar da beleza encontrada em todo o poema, com essa luta em prol da paz, uma<br />

parte dele, do sexto ao oitavo verso, parece-nos mais pensada, mais trabalhada, pois é onde a<br />

mensagem abandona um pouco o lado objetivo que prevalece em todo o poema,<br />

apresentando-se por meio de metáforas – figura de linguagem típica da poesia e das correntes<br />

que se apóiam na subjetividade. Quando o eu lírico cita “a palavra soldado”, quer ele mostrar-<br />

nos a imagem mental que temos daquele ser, que se torna dolorosa a ponto de aparecer como<br />

sangrando “no coração”, isto é, torna-se pesaroso para nós pensarmos nestes homens que irão<br />

matar outros homens. Este ato de sangrar pode ainda tomar conotações maiores, pois, mais<br />

que o simples fato de representar a nossa dor íntima, pode representar de fato a dor carnal,<br />

uma vez que os soldados podem não tão somente confrontarem-se com outros soldados em<br />

um campo de batalha, mas também podem agir contra os civis, matando homens desarmados.<br />

O “sangrar”, então, também pode ser depreendido como morte física; sentida pela voz do<br />

poema pelo que ela tem de preocupada com a raça humana em todo o globo.<br />

Interessante é ainda a figura do soldado. Interpretados como “símbolos<br />

marchando”, vemos a massificação de inúmeros homens que, todos similares (nos trages e nos<br />

gestos), são interpretados como simples símbolos, e não mais como seres humanos<br />

individuais, cada um com seus sonhos e necessidades. Essa desumanização de tal grupo<br />

possivelmente foi almejada por Rivera em sua elaboração artística para amenizar o horror da<br />

matança humana promovida pelo próprio homem.<br />

Buscando na filosofia bersoniana o entendimento para as nossas conjecturas,<br />

confirmamos o nosso pensamento através das palavras do filósofo quando este profere:<br />

“Certamente uma lembrança, à medida que se atualiza, tende a viver numa imagem; mas a<br />

recíproca não é verdadeira, e a imagem pura e simples não me reportará ao passado”. 173 Esta<br />

sensação é ainda mais fortemente evidenciada quando ele profere: “Se a lembrança de uma<br />

grande dor, por exemplo, não é mais que uma dor fraca, inversamente uma dor intensa que<br />

experimento acabará diminuindo, por ser uma grande dor rememorada”. 174 Na poesia de<br />

Bueno de Rivera, considerar os homens que vão para a guerra como simples “símbolos<br />

marchando”, ameniza a dor de depararmo-nos com homens dispostos a matar seus<br />

semelhantes.<br />

173 BERGSON, Henri. Op. cit. p. 158<br />

174 Ibidem, p. 159

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