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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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do pai, que se refere à esposa como “rosa estéril”, pelo receio desta não poder mais gerar uma<br />

vida.<br />

Como o gênero analisado é a poesia, precisamos de um olhar mais introspectivo na<br />

obra como um todo se quisermos entender o intuito do poeta ao se utilizar de determinada<br />

forma expressiva. Como Drummond, que em Boitempo diz que “A sombra vem nos cascos/<br />

no mugido da vaca/ separada da cria”, 154 e ali encontramos o menino Carlos, em sua infância<br />

bucólica e pastoril, recebendo da fazenda experiências de vida, noções de mundo, aqui<br />

também encontramos o Bueno de Rivera, só que adulto, vivido, contando os mais diversos<br />

casos de sua existência, expondo seu jeito de ser, sua forma de entender e interagir com o<br />

mundo.<br />

144<br />

Porém, assim como Drummond, Rivera também se despersonaliza no momento<br />

em que lança suas possíveis vivências nos poemas que realizara; e isso porque tais<br />

sentimentos advindos de sua poesia não são exclusivamente dele, o cidadão Rivera, o homem<br />

mineiro, mas de qualquer um. Comprovam isso as palavras da mestre cearense Danielly<br />

Passos de Oliveira, para quem:<br />

A impossibilidade da fala de dizer o que realmente interessa advém quando o<br />

mundo e seus objetos deixam de ser ilusoriamente familiares ao olhar. O familiar é<br />

um atributo do domesticado, daquilo que se fixa no tempo, adquirindo uma<br />

identidade. Desvendar o silêncio por detrás das palavras é justamente dissolver as<br />

identidades, espantar-se com o óbvio, procurar em cada coisa a face terrível da<br />

vida, a matéria orgânica que pulsa e não define um só sentido. Captar a vida<br />

implica o susto de se estar vivo.<br />

Nesse sentido, a literatura não é uma imitação do real, uma representação das<br />

coisas concebidas no mundo particular do escritor. Não é obra de um eu que<br />

representa para si sua vida, seu trabalho e sua linguagem. O escritor é alguém que<br />

se desvencilhou de sua individualidade, para capturar o intenso trabalho da vida que<br />

se esconde por trás da organização do eu. 155<br />

Apesar do exposto acima, sabemos bem que Rivera publicara poemas do tipo: “Há<br />

um Menino na Distância” (MS) e “Canção dos Dois Meninos” (LP), em que sua infância é ali<br />

visualizada; “Itinerário de Ângela”, “Ângela no Mar”, “Ângela no Porto de Santos” e “Ângela<br />

Embala o Filho” (LP), onde a retratação da esposa é evidente; ou até mesmo “O Poeta na<br />

Sapataria Aquário” (LP), com a sua representação, a um só tempo, como poeta e eu lírico do<br />

poema. Mais uma vez buscando os postulados do teórico da autobiografia, Phillippe Lejeune,<br />

temos que para este “o emprego de títulos não deixa alguma dúvida sobre o fato de que a<br />

154 ANDRA<strong>DE</strong>, Carlos Drummond de. Boitempo. p. 46<br />

155 PASSOS <strong>DE</strong> OLIVEIRA, Danielly. In: Revista de Letras nº 22- vol 1/2 - jan/dez 2000. p. 88-9

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