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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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aparelho necessário para a referida atividade, que é o microscópio, chegando a evidenciar tal<br />

informação em poemas como “O Microscópio”, em que diz: “O olho no microscópio/ vê o<br />

outro lado”. Pode o referido trabalho pelo poeta desempenhado ter dado origem ao olho em<br />

seus poemas como um elemento capaz de perscrutar o ser, transformando-o em uma figura<br />

imprescindível para a sua ideologia poética. Ele poderia ter associado o fato de o seu olho, no<br />

microscópio, desvendar várias coisas que em geral não se mostram a olho nu, ao processo de<br />

análise íntima do seu ser promovido, quem sabe, pela sua própria consciência. O que<br />

compreendemos é que os seus poemas, então, mesmo tratando de uma questão evidente, são<br />

por inúmeras vezes líricos, intimistas, suscitando discussões aprofundadas sobre o que vai em<br />

sua alma, ou melhor, discutindo os sentimentos humanos.<br />

Fazendo menção a um alguém que perdeu a visão e quer, apenas por estética, usar<br />

um olho artificial, vem Rivera mostrando ser o olho uma “Pedra de luz”: “pedra”, porque é<br />

um material duro, que dará a feição de um olho natural na órbita ocular; e “de luz”, pelo<br />

desejo apresentado pela voz do poema em ter esse elemento postiço como uma forma de<br />

esconder o seu defeito. Já que o olho de vidro não serve para ver, compara-o então a<br />

elementos que, ou são artificiais, ou destorcem os naturais, como “Rosa de papel, lago<br />

apagado, peixe/ dormindo”. Como este alguém não pode mais ver, permanece com a idéia de<br />

ter outro olho fixada na “memória”, mesmo que não apresentando a função orgânica do<br />

natural.<br />

As imagens que se formam no poema são desconexas, como se o poeta quisesse<br />

nos aproximar da perturbação mental sofrida por esta pessoa que perdeu a visão. Influenciado<br />

ainda pela imagem do afogado, Rivera cria a penúltima estrofe do poema analisado, com a<br />

cena de um naufrágio misturado a outros “tormentos” humanos. A última estrofe, finalizando<br />

a anterior, dá-nos agora uma nova dimensão para o problema do “olho” como um elemento<br />

poético: não temos mais aquela simples figura conforme a realidade; o “olho mineral”, em<br />

virtude de sua neutralidade frente às tragédias a que muitos foram acometidos, seria mais a<br />

representação de uma cegueira moral, onde os seres que a tinham não se sensibilizavam com<br />

o padecimento alheio.<br />

É, pois, esse “olho” com um sentido metafísico, por vezes próximo ao que temos<br />

por nossa “consciência”, o que prevalece na poesia de Bueno de Rivera. Várias são as<br />

passagens, ao longo das suas três obras poéticas, em que podemos detectá-lo, valendo como<br />

exemplo o momento em que ele aparece em “Noturno Mineiro”, quando diz: “Na luz morna<br />

do carro/ a memória acende o olho” (MS, p. 66), apresentando-se apenas como o despertar da<br />

memória para as coisas da infância; ou também em “A Cabeça”, em que o olho é o simples<br />

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