O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Só.<br />
Dobram o sinos<br />
batem sinos<br />
choram alguém?<br />
Dobram os sinos<br />
do Pilar<br />
– pelo notário<br />
– pelo sicário.<br />
Dobram os sinos<br />
do Carmo<br />
– pelo ricaço<br />
– pelo devasso.<br />
Dobram os sinos<br />
das Mercês<br />
– pelo ouvidor<br />
– pelo marquês.<br />
Dobram os sinos<br />
choram os sinos<br />
pelos Nobres BLÃO<br />
pelos brancos BLÃO<br />
– pelo Aleijadinho NÃO! (PP, p. 147)<br />
151<br />
Aqui o poeta retrata a solidão a que Aleijadinho era relegado, sem ninguém a lhe<br />
fazer companhia; morreu sem que nem os mandantes daquela localidade ou mesmo um líder<br />
religioso, que pudesse lhe ouvir a última confissão e absolver-lhe os pecados, estivessem ali<br />
presentes ou soubessem do fato ocorrido. Cortante é o momento em que a voz do poema<br />
mostra os sinos badalando por causa do seu enterro, indagando logo em seguida: “choram<br />
alguém?”, pois não havia gente para chorar-lhe nem a morte. Nos últimos versos, em que<br />
aparecem como refrão o “dobram os sinos”, vemos que as igrejas chamam os fiéis para se<br />
reunirem e chorarem pela morte tanto de pessoas ricas e da aristocracia, quanto de facínoras e<br />
libertinos; somente o Aleijadinho morre sem nenhum compadecimento.<br />
Outros nomes mais que figuraram no cenário mineiro aparecem nos poemas de<br />
Rivera; alguns apresentam o caráter nobre, como a figura de Tiradentes, ou o tom jocoso,<br />
como no caso de Chica da Silva. Em relação a esta última, tenhamos os seguintes trechos do<br />
poema “Chica da Gôndola”:<br />
No mar diamantina<br />
Chica da Silva na gôndola gondola<br />
gondola<br />
na gôndola.