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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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mas para indagar acerca dessa população humana que vive à margem da sociedade, de forma<br />

desprezada, sendo então a sua “borra”, ou seja, os seus resíduos, a parcela de coisa que se tira<br />

de determinado elemento para deixá-lo puro.<br />

“Usina Capciosa” suscita inúmeros questionamentos sobre o ser humano, o seu<br />

modo de ser e a estrutura social por ele formada. É assim que na oitava estrofe é levantado um<br />

questionamento interessante, perguntando se “O carvão alimenta/ a forja ou o bucho”,<br />

querendo dizer com isso que é com o trabalho na forja, que por sua vez é alimentada com<br />

carvão para acender o fogo, que o operário tem o seu sustento. Assim, ao invés de alimentar o<br />

objeto, o carvão alimentaria o “bucho” do operário.<br />

Bueno de Rivera confronta, no poema em análise, o ser humano com elementos do<br />

meio que nos cerca. É uma atitude madura, que mostra o entendimento adquirido sobre o eu e<br />

o não-eu, diluídos em uma massa uniforme. Esclarecedoras são as palavras de Heidegger<br />

relativas ao assunto abordado, para quem o homem está lançado na natureza, muito embora,<br />

para que possamos atingir o seu desvelamento, seja necessário o conhecimento sobre o meio<br />

imaterial que também faz parte deste:<br />

Ao se refletir sobre esta relação de ser, dá-se, logo de início, um ente,<br />

chamado natureza, como aquilo que primeiro se conhece. Nesse ente não se<br />

encontra conhecimento. Quando “se dá” conhecimento, este pertence unicamente<br />

ao ente que conhece. Entretanto, o conhecimento também não é simplesmente dado<br />

nesse ente, a coisa homem. De todo modo, não se pode constatado externamente<br />

como, por exemplo, propriedades de nosso corpo. Na medida, porém, em que não<br />

lhe pertence como uma qualidade externa, o conhecimento deve estar “dentro”.<br />

Assim, quanto mais univocamente se admite, em princípio, que o conhecimento<br />

está propriamente “dentro”, e que nada possui do modo de ser de um ente físico e<br />

psíquico, tanto mais se acredita proceder sem pressuposições, na questão sobre a<br />

essência do conhecimento e sobre o esclarecimento da relação entre sujeito e<br />

objeto. 79<br />

Além das considerações feitas sobre a questão do ser, a filosofia heideggeriana<br />

também enfoca o uso da linguagem, bem como a manifestação desta por meio da poesia. Para<br />

o filósofo Batista Mondin, “Heidegger atribui à linguagem originária uma densidade<br />

ontológica fundamental: a palavra não é somente habilitação e signo, mas também fonte e<br />

sustentáculo do ser das coisas”, 80 indicando com isso que é através da palavra que atestamos a<br />

nossa essência humana. Assim também se apresenta para nós a poesia de Rivera, que muitas<br />

vezes funciona como uma maneira de se trabalhar a palavra, no intuito de sair de si e<br />

compreender a si próprio, alcançando assim a transcendência; procura ele, através dessa<br />

79 HEI<strong>DE</strong>GGER, Martin. Ser e tempo. p. 99<br />

80 MONDIN, Batista. O homem: quem é ele?: elementos de antropologia filosófica. p. 148<br />

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