O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
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sexocine<br />
sexocínico<br />
sexatriz<br />
Complexo no homem é o sexo<br />
reflexo do homem é o sexo<br />
vê o convexo no sexo<br />
sem nexo fala do sexo<br />
perplexo diante do sexo<br />
genuflexo adora o sexo<br />
que o século é todo do sexo. (PP, p. 136-7)<br />
Trazendo nesses versos de duas (os dois primeiros) e de três (os quinze seguintes)<br />
sílabas poéticas novas palavras e sentidos, Bueno de Rivera se utiliza de uma aglutinação de<br />
palavras, com a ligação do vocábulo “sexo” a outros vocábulos mais, em um processo típico<br />
do movimento concretista. Os dezessete primeiros versos do trecho citado, portanto, em<br />
poucas palavras nos dão uma amplitude do que o poeta pensava sobre a atitude do homem<br />
diante do sexo. O primeiro desses vocábulos, “Pansexo”, indica já o que há de vir, uma vez<br />
que o prefixo “pan” dá uma idéia de totalidade: seria então o sexo em toda a sua<br />
possibilidade, encontrado nos mais diversos locais e elementos. Seria quase um sestro, ou<br />
seja, uma mania, uma obsessão desse ser pelo assunto abordado, como completa o segundo<br />
verso do trecho supracitado.<br />
A seqüência de neologismos criados com sex(o) trazem uma abrangência de<br />
significados para o que seja o sexo, sendo este buscado na Europa e nos trópicos, desejado por<br />
soldados e servindo aos cidadãos comuns mascaradamente em forma de turismo. É<br />
interessante vermos essa denúncia feita por Rivera, falando sobre o “sexotur/ sexotél”, o que<br />
hoje é bastante evidenciado e combatido pelas autoridades competentes, que é o turismo<br />
sexual e a rede clandestina que dá suporte a esse tipo de sexo. O oitavo verso, “sexotário”,<br />
mostra a visão do poeta diante dessa situação: o homem, visto como um tolo, é posto nessa<br />
condição embaraçosa para que se possa evidenciar o ridículo a que este pode chegar somente<br />
em nome do prazer carnal.<br />
Outras conotações mais para a palavra evidenciada nesse trecho do poema em<br />
análise também podem ser percebidas, como a procura pela retratação artística tanto das<br />
partes pudicas do corpo humano quanto do próprio ato sexual, nesse “sexoarte”; ou o caráter<br />
universal do sexo como uma forma de negócio lucrativo, pelo “sexodólar”, já que a moeda<br />
americana é símbolo da forma de negociação internacional. Logo a seguir temos um próximo<br />
vocábulo, o “sexocine”, que é, a um só tempo, arte e uma maneira de se ganhar dinheiro, que<br />
por sua vez vem seguido do “sexocínico” e da “sexatriz”. Esses dois seriam, então, aquele que<br />
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