11.04.2013 Views

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

imaginários”, “olhos adúlteros”, “filhos mortos em forcas ilusórias”). Seria como uma<br />

punição moral aplicada pela própria consciência do pecador, boiando “no esquecimento/ os<br />

afogados do mar profundo” (MS, p. 45). Ainda seguindo a visão de Dulce Salles acerca da<br />

água na poesia de Bueno de Rivera, poderíamos citar o trecho em que ela discorre sobre o<br />

verbo que abre os versos supracitados, analisando profundamente a questão desse mundo<br />

submerso:<br />

“Mergulho” é a expressão do desespero que sente aquele a quem o ar falta.<br />

O que não vê possibilidade de salvação. Água, apenas água; depois de lhe faltar o<br />

pé, sente faltarem-lhe as forças; tenta salvar-se, lutando com a morte. Depois lhe<br />

vem o desespero frio da certeza da impossibilidade de reação. O sentimento da<br />

derrota. 102<br />

Símbolo de pureza, a água funciona para Rivera como o elemento que vem aplacar<br />

a maldade dos seres humanos, iniciando a partir dele próprio. Ela vem como o dilúvio bíblico,<br />

dizimando a todos. Em seus poemas, o eu lírico aparece como um ser vencido pelas águas,<br />

sabendo este ser inútil a luta contra tal meio.<br />

Como um caldeirão para onde vão todas as impurezas humanas, toda a patologia<br />

social, essas águas profundas abrigam as mais diversas pessoas. Belíssimo é o poema “As<br />

Afogadas”, onde encontramos mulheres que para esse meio foram impelidas. Vejamos:<br />

Vem das águas perdidas<br />

o canto das afogadas.<br />

Olhos submersos se apagam,<br />

cabelos dançam nas ondas.<br />

Flutuam beijos.<br />

Barqueiros das faces rudes<br />

jogam as virgens no rio impuro.<br />

As mãos aflitas acenam,<br />

buscando as praias do impossível.<br />

Brilha um olho de náufrago<br />

como um farol de luz incerta.<br />

Enche o mundo, como um remorso,<br />

o grito rouco das afogadas. (MS, p. 22)<br />

De tom macabro, o poema transcrito traz em si uma simbologia que remete a um<br />

mundo fantástico, povoado por seres esdrúxulos. Não está muito evidente, mas ao que tudo<br />

102 BRAGA, Dulce Salles Cunha. Op. cit. p. 286<br />

84

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!