Desenvolvimento e Cidades no Brasil - Redbcm.com.br

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68<br />DESENVOLVIMENTO E CIDADES NO BRASIL<br />Contribuição para o Debate sobre as Políticas Territoriais<br />do o argumento de Adam Smith, a autora lembra que o economista inglês já havia notado,<br />na segunda metade do século XVIII, que as nações de agricultura mais desenvolvida de seu<br />tempo eram precisamente aquelas em que indústria e comércio eram os mais avançados.<br />Em contrapartida, as nações mais primitivamente agrícolas eram também as mais pobres.<br />Mais ainda, a agricultura mais produtiva, próspera e atualizada – como a da Inglaterra de<br />então – encontrava-se próxima de cidades, enquanto a agricultura mais pobre era justo<br />aquela isolada da dinâmica urbana, expressa pelo caso da Polônia. E, mesmo na Inglaterra,<br />não seria a agricultura que induziria o desenvolvimento da indústria e do comércio, mas, ao<br />contrário, ficava bem aquém desses o desenvolvimento da agricultura.<br />Para Jacobs, contudo, essa é uma leitura incompleta da realidade. Sua compreensão,<br />baseada em estudos arqueológicos, é de que essa ‘superioridade’ de indústria e comércio<br />em termos de dinamismo e produtividade sobre a agricultura estava associada ao fato<br />de que a origem daqueles se teria dado primeiro do que esta. A cidade teria gerado a<br />agricultura, para prover alimentação, abrigo e proteção para seus habitantes, aglomerados<br />em uma pequena fração de espaço. Essa concentração de indivíduos seria responsável,<br />com o passar do tempo, pelo desenvolvimento tanto de conhecimento novo sobre seleção<br />de sementes e métodos de domesticação e criação de animais, como de novos produtos e<br />atividades. À medida que a população cresce, o espaço torna-se pequeno para assegurar a<br />produção dos elementos necessários à reprodução do número ampliado de habitantes, transpondo-se<br />então seus limites para a constituição de campos de cultivo e criação nas suas<br />vizinhanças. A autora conclui que a concentração de indivíduos estimula a troca, favorece<br />a criação e a consolidação do mercado, o que, por sua vez, promove a especialização e a<br />divisão de trabalho para o desenvolvimento de soluções para problemas identificados no<br />curso das interações entre os indivíduos com diferentes habilidades que habitam a cidade.<br />A constante criação de soluções que esse ambiente desencadeia, favorecida pela proximidade<br />física de grande quantidade de pessoas e ideias, como defende Storper e Venables<br />(2004), inspirados por Jacobs, é o fenômeno que promove o crescimento da cidade, ao<br />mesmo tempo em que tais soluções são exportadas da cidade para o campo, transplantadas<br />ou imitadas.<br />A essa criação de soluções baseadas na observação de problemas e situações da<br />realidade cotidiana das pessoas – seja o desenvolvimento de uma embalagem para transportar<br />sementes melhoradas, seja a utilização dessa embalagem para outros fins, seja a<br />identificação de métodos de plantio mais eficientes – ela denomina de trabalho novo. O
DESENVOLVIMENTO E CIDADES NO BRASIL<br />Contribuição para o Debate sobre as Políticas Territoriais<br />crescimento da cidade está, segundo Jacobs, associado à criação agregada de trabalho<br />novo, o que acontece no ambiente urbano, porque ali pessoas diferentes, com conhecimentos<br />diferentes e complementares, ao mesmo tempo que interagem entre si, estimulam e<br />contribuem para a criação de trabalho novo Na cidade, divisões de trabalho existentes<br />multiplicam-se em novas divisões de trabalho por meio de atividades adicionadas que propiciam<br />novas adições de trabalho a serem mais adiante divididas também. O processo de<br />adicionar trabalho novo ao antigo, e dessa forma multiplicar as divisões de trabalho, pode<br />ser representado como na figura 1.<br />Processo de criaçãode trabalho novo<br />nD<br />D A nD A<br />nD<br />nD<br />A figura 1 dá forma à seguinte expressão:<br />D+A > nD<br />Em que, D é a divisão de trabalho existente, A é a nova atividade adicionada a D, e<br />nD representa o número indeterminado de novas divisões de trabalho que podem resultar<br />do adicionamento de trabalho novo.<br />Com isso, para Jacobs, o princípio da divisão de trabalho ganha dimensão central na<br />própria compreensão de desenvolvimento, não apenas do crescimento das cidades. A autora<br />defende que as cidades não se expandem simplesmente por produzirem em maiores<br />quantidades o que já vêm produzindo, mas por adicionarem trabalho novo, novos tipos de<br />trabalho, a atividades já existentes. Discutindo por outra perspectiva, Jacobs aproxima-se<br />nD<br />nD<br />nD<br />nD<br />A<br />nD<br />nD<br />nD<br />Divisões de<br />trabalho existentesmultiplicam-se<br />em novas<br />divisões de<br />trabalho por<br />meio de atividadesadicionadas<br />que propiciam<br />novas<br />adições de trabalho<br />a serem<br />sucessivamente<br />divididas.<br />69
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