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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOSSua mãe, Nair Mota Dias, assim descreveu, em 1978, suas buscas e angústias, em depoimento publicado no livro de Reinaldo Cabrale Ronaldo Lapa: “Aí é que eu digo, o problema é o medo. Todo mundo tem medo. O medo traz muita desordem. As pessoas não queremse comprometer, e por isto não dão informações. Ninguém quer se meter, se complicar. Como é que some uma pessoa assim e ninguémviu? Ninguém sabe de nada? (...) Foi depois da morte de Lucas (seu marido, pai de Ivan, em agosto de 1974), quando o general Geiselassumiu, que eu escrevi uma carta para o Lysâneas. Foi em fevereiro, creio, os jornais diziam que o Geisel ia fazer e acontecer, houveuma esperança muito grande naquele momento. O MDB de São Paulo estava recebendo cartas de familiares de pessoas presas ouseqüestradas, e eu enviei para o Lysâneas, dizendo que não queria que soltassem meu filho, não; se ele tinha errado, eu queria que eleaparecesse e fosse julgado pelas leis do país. Mesmo pelas leis de exceção. Só queria isso: que ele aparecesse. Aí iria a julgamento. Agente poria um advogado e íamos ver. Mesmo morto, tinha que aparecer o corpo. Alguém tinha de assumir a responsabilidade. O quenão podia era uma pessoa sumir de repente e ninguém saber de nada, ninguém se responsabilizar”.DÊNIS CASEMIRO (1942-1971)Número do processo: 110/96Filiação: Maria dos Anjos Casemiro e Antônio Casemiro SobrinhoData e local de nascimento: 09/12/1942, Votuporanga (SP)Organização política ou atividade: VPRData e local do desaparecimento: 18/05/1971, em São PauloData da publicação no DOU: Lei nº 9.140/95 – 04/12/95Militante da VPR, com passagem anterior pela Ala Vermelha, seu nome também integra a lista de desaparecidos políticos anexa àLei nº 9.140/95. Paulista de Votuporanga, irmão de Dimas Casemiro, do MRT, morto em São Paulo na mesma época, era trabalhadorrural e desenvolvia trabalho político clandestino no sul do Pará, onde cuidava de um sítio próximo a Imperatriz (MA). Provavelmentefoi localizado naquela região e preso pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, em fins de abril de 1971, sendo levado para o DOPS/SP,onde permaneceu por quase um mês. Durante esse período, era sempre transportado pelos corredores com um capuz cobrindo o rosto,para impossibilitar sua identificação pelos demais presos. Um desses presos era Waldemar Andreu, conterrâneo de Dênis, que chegoua conversar com ele por alguns minutos. Dênis estava confiante de que a retirada do capuz era sinal de que o perigo de morrer haviapassado – mas foi morto em 18 de maio de 1971.Em relatório encontrado nos arquivos do DOPS/SP, o delegado Sérgio Paranhos Fleury não esconde o sinismo ao narrar o episódio da mortede Denis. Fleury reporta que voltava do Rio de Janeiro, transportando o preso, quando, ao se aproximarem de Taubaté (SP), Denis declarouque, em Ubatuba (SP), havia um campo de treinamento da VPR. O delegado resolveu, então, seguir até lá para que fosse indicado exatamenteo local da área de treinamento.Ao iniciarem a descida da serra, Denis teria dito que necessitava fazer necessidades fisiológicas. Apesar da neblina e da garoa quecaía, Fleury autorizou que a viatura parasse, atendendo à insistência do preso. Inesperadamente, quando baixava as calças, segundoo relato sarcástico, Denis apoderou-se da arma de um policial, tendo outro imediatamente alvejado Denis, que, mesmo ferido, conseguiufugir. Fleury seguiu para Ubatuba, onde deixou de sobreaviso o delegado de polícia na cidade. Na manhã seguinte, Fleury teriasido informado pelo delegado que Denis estava na Santa Casa local, onde assumira a própria identidade e dissera que fora baleadopelos policiais que o transportavam, contando, segundo Fleury, uma história diferente do que ocorrera. O delegado de Ubatuba manteveo preso incomunicável. Fleury mandou que seus agentes o buscassem. Na estrada, encontraram-se casualmente com a viaturaque transportava Denis para atendimento médico na capital. Os agentes de Fleury, sempre conforme a ficção mordaz do relatório,receberam o preso e rumavam com toda pressa para a capital, a fim de que pudesse ser medicado, mas o preso não resistiu, e morreu,sendo encaminhado ao necrotério do Instituto de Polícia Técnica.| 163 |

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