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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOSsuas passagens por prisões. Eram, quase sempre, ativistaspolíticos notoriamente perseguidos pelos órgãosde segurança. Vários estavam submetidos a processosjudiciais. Seus últimos contatos foram com companheirosde suas organizações. Depois, sumiram. Nunca maisforam vistos.No entanto, tantos foram os esforços na busca de pistase informações por parte de familiares e amigos, comprovarama sua detenção e execução pelos órgãos desegurança do Estado. Exemplos como o de Mariano Joaquimda Silva se repetiram dezenas de vezes. Presoem Recife, no dia 1º de maio de 1971, pelo DOI-CODI elevado para um “aparelho” clandestino da repressão, a“Casa da Morte”, em Petrópolis (RJ), foi visto pela presapolítica Inês Etienne Romeu, que falou com ele naqueletenebroso local. Mariano era dirigente da VAR-Palmarese a data de sua chegada ao “aparelho” teria sido 2de maio. No dia 31 do mesmo mês, Inês percebeu umamovimentação incomum e se deu conta de que Marianohavia sido retirado da “Casa da Morte”. Desde então,ninguém mais viu nem teve notícias dele.Inês Etienne revela ser testemunha, visual ou indireta,da prisão de outros militantes desaparecidos, comoCarlos Alberto Soares de Freitas, Rubens Paiva, AluísioPalhano, Ivan Mota Dias, Walter Ribeiro Novais, HeleniGuariba e Paulo de Tarso Celestino da Silva. Algunsdestes teriam sido levados para a famigerada casa emPetrópolis. Lá foram interrogados, torturados e, ao quetudo indica, assassinados. Mas os órgãos de segurançanunca assumiram essas mortes, nem entregaram seusrestos mortais aos familiares. “São cruzes sem nomes,sem corpos, sem datas”, como cantou Gonzaguinha, emLegião dos Esquecidos, música composta em homenagemaos que lutaram contra o regime militar.O livro Brasil Nunca Mais também faz referências a ou-tros desaparecidos políticos como Edgar Aquino Duarte,Bergson Gurjão Farias, Armando Teixeira Fructuoso.Também foram vistos por outros presos em dependênciaspoliciais. O ano de 1974, particularmente, traz umaestatística macabra. Oficialmente não houve mortes nasprisões. Todos os presos políticos mortos “desapareceram”.Em plena distensão lenta, gradual e segura, teoricamentenão haveria mais necessidade de repressão,porque a subversão já teria sido esmagada. Por isso,o regime passou a não mais assumir o assassinato deopositores.Entre os grupos políticos com maior número de militantesdesaparecidos, destaca-se o da Guerrilha do Araguaia, vinculadaao PCdoB, com 64 ativistas identificados, conformeo Dossiê dos Mortos e Desaparecidos, editado em 1995.Esse número de guerrilheiros varia conforme a fonte. NaCEMDP deram entrada 62 processos de desaparecidos noAraguaia. No mencionado dossiê, o termo desaparecido éusado para definir a condição daquelas pessoas que, apesarde terem sido presas ou seqüestradas, torturadas e mortaspelos órgãos de segurança, não tiveram suas prisõese mortes assumidas pelas autoridades do Estado. Foramconsideradas foragidas, fazendo que seus familiares busquem,até hoje, o merecido esclarecimento e a localizaçãode seus corpos. De todos os desaparecidos brasileiros, atéhoje, transcorridos quase 20 anos de vigência plena do EstadoDemocrático de <strong>Direito</strong>, que a Constituição de 1988sacramentou, apenas três corpos foram encontrados e devidamentesepultados pelos seus familiares: Maria LúciaPetit, Luiz Eurico Tejera Lisbôa e Denis Casemiro.Nos trabalhos da CEMDP, quando se utiliza o termo“morto”, em vez de “desaparecido”, significa que a morteda pessoa presa foi reconhecida publicamente pelosórgãos do Estado. Nos jornais televisivos ou impressosda época, a versão que circulava era unicamente a dosórgãos de segurança: os presos tinham sido mortos emtiroteio, ou haviam cometido suicídio, ou sofrido atropelamentoquando tentaram fugir dos policiais. Hoje,sabe-se que a maioria dessas mortes se deu nas prisões,sob intensas torturas. Muitos desses corpos, no entanto,continuam ocultos e os familiares insistem na necessidadede que sejam devidamente localizados, resgatados| 49 |

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