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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEContradições e indícios de execução após terem sido feridos foram detectados nos próprios documentos oficiais. Antônio Sérgio e Manuelteriam sido encontrados mortos às 16h, enquanto Eduardo teria sido encontrado às 15h. Os corpos dos três deram entrada no IML às 18h40,apesar de o local da emboscada ser muito próximo à sede do IML paulista. No laudo de Antônio Sérgio, os legistas relatam dois ferimentosà bala, no pescoço e traquéia, e descrevem ferimentos não causados por arma de fogo, feitos por instrumento não identificado, mas queleva a supor que tenham sido feitos com proximidade física do agressor. Indício eloqüente de tortura ou espancamento.O laudo de Eduardo apresentava dois tiros na região glútea e dois nas pernas, capazes de imobilizá-lo, mas jamais de provocar a morteimediata. O corpo de Manuel apresentava orifício de entrada de projétil de arma de fogo na face dorsal da mão direita, característico dereação de defesa para disparo à curta distância. E ainda um orifício de entrada de projétil na altura do omoplata esquerdo, com saída naface anterior do hemitorax esquerdo após fraturar a clavícula e os segundo e terceiro arcos anteriores esquerdos – tiro dado de cima parabaixo e, pela descrição da trajetória, poder-se-ia deduzir que disparado quando a vítima estava dominada e de joelhos. Escoriações nos doisjoelhos e no nariz foram anotadas pelos legistas.As fotos dos corpos mostraram equimoses e edemas não descritos. A de Antônio Sérgio exibia apenas o rosto, com o tórax encoberto e umobjeto junto ao pescoço, que se assemelha a um gancho. A de Manuel José mostrava evidentes sinais de tortura, sendo que nenhum dostiros que recebeu seria fatal. Como e onde morreram, não foi possível determinar pelos documentos apresentados.Os processos foram relatados em conjunto, mas as discussões e votações se deram em separado. O relator votou pela aprovação do processode Antônio Sérgio e Eduardo Antonio. O de Manuel José havia sido protocolado fora do prazo, o que impedia o deferimento, por serintempestivo, apesar de que, no mérito, preenchia os critérios exigidos pela lei para aprovação. Houve pedido de vistas aos processos porLuís Francisco Carvalho Filho e, posteriormente, pelo general Oswaldo Pereira Gomes.Nilmário Miranda e Luís Francisco destacaram que as lesões sofridas e descritas nos laudos cadavéricos não indicavam que o óbito dos trêsmilitantes tinha sido imediato. Mesmo tendo ocorrido o tiroteio alegado, havia fortes indícios de que um ou dois deles não morreram nolocal, permanecendo vivos em poder dos agentes públicos até a morte. Não foi essa, entretanto, a opinião da maioria dos integrantes daCEMDP. Somente o processo de Eduardo Antonio da Fonseca foi aprovado nessa primeira fase, registrando-se voto contrário do generalOsvaldo Pereira Gomes. Os outros dois casos foram reapresentados posteriormente, obtendo deferimento em 2004.FELIX ESCOBAR (1923-1971)Número do processo: 053/96Filiação: Emília Gomes Escobar e José EscobarData e local de nascimento: 22/03/1923, Miracema (RJ)Organização política ou atividade: MR-8Data e local do desaparecimento: setembro/outubro de 1971, Rio de Janeiro (RJ)Data da publicação no DOU: Lei nº 9.140/95 – 04/12/95Militante do MR-8, o nome de Feliz integra a lista anexa à Lei nº 9.140/95, estando desaparecido desde a prisão, em setembro ou outubrode 1971, provavelmente na Baixada Fluminense. Felix Escobar foi camponês, comerciário, pedreiro, servente de obras, instalador de persianase também tesoureiro do Sindicato dos Empregados no Comércio em Duque de Caxias e São João de Meriti. Nascido em Miracema(RJ), instalou-se em Pilar, em 1942, na Baixada Fluminense. Casou-se com Raymunda Cardoso Escobar, com quem teve seis filhos. Depoisde ficar viúvo em 1965, casou-se com Irani e tiveram dois filhos. Participou da campanha em defesa do petróleo brasileiro nos anos 1950e atuou na diretoria do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro.Iniciando a militância política no Partido Comunista na década de 50, ele trabalhou muito para criar o Sindicato dos Trabalhadores Ruraisde Duque de Caxias (RJ), em 1962. Filho de um pequeno proprietário camponês, Felix viveu sempre humildemente. Dizem seus amigos que| 184 |

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