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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEJosé Bartolomeu era estudante secundarista, pernambucano de Canhotinho, e não foi possível coletar outros dados a respeito de sua biografia eatividades políticas anteriores. Os órgãos de segurança o acusavam de participação na tentativa de roubo de um veículo do tenente da AeronáuticaMatheus Levino dos Santos, em Recife, no dia 26/6/1970, que reagiu a tiros e foi baleado, vindo a morrer em conseqüência dos ferimentos emmarço do ano seguinte. José Bartolomeu, segundo informações dos órgãos de segurança, teria regressado ao Brasil pouco antes de ser morto, vindode uma viagem ao Chile em que acompanhou o ex-sargento da Aeronáutica Antonio Prestes de Paula em reuniões com banidos brasileiros.José Silton viveu até 6 anos de idade no pequeno sítio denominado Pium, onde nasceu, em São José do Mipibú, Rio Grande do Norte. Suamãe faleceu após seu nascimento, por complicações no parto e falta de assistência médica. O bebê foi então adotado pela tia Lira – MariaGomes Pinheiro, irmã de seu pai. Depois foi para a cidade de Monte Alegre, onde viveu até completar 10 anos. A partir daí, radicou-se emNatal. Estudou no Colégio Salesiano, no Instituto Sagrada Família e fez o ginasial no Colégio Santo Antônio, dos Irmãos Maristas. Iniciouo curso clássico no Colégio Estadual Padre Miguelinho, concluindo-o no Atheneu Norte-Rio-Grandense. Em 1965, foi eleito presidente doDiretório Marista de Natal. Em 1966, entrou em contato com o pensamento da Igreja progressista e, pretendendo se tornar irmão Marista,passou a estudar no Convento de Apipucos, em Recife. Mas sua inquietação política foi além da vocação religiosa. De volta a Natal, ingressouna Faculdade de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tempos depois, passou a militar no PCBR, atuando emNatal, Recife e, por fim, no Rio de Janeiro. Os órgãos de segurança o acusavam de participação em assalto a um banco na Penha, no Rio,em 27/07/1972, em que teria matado o contador Sílvio Nunes Alves.Lourdes Maria era pernambucana de Olinda e estudou o primário e o ginásio em Recife, não chegando a concluir seus estudos por seuenvolvimento na militância política a partir de 1968. Em 1969, casou-se com Paulo Pontes da Silva, com quem se mudou para Natal (RN)devido à repressão política. Novamente perseguido, o casal transferiu-se, em fevereiro de 1970, para Salvador (BA), sendo que no mesmoano, Paulo foi preso, sendo posteriormente condenado à prisão perpétua, por co-autoria no assassinato de um sargento da Aeronáutica queo conduzia preso algemado ao companheiro de militância Theodomiro Romeiro dos Santos. Após a prisão de Paulo Pontes, Lourdes foi entãodeslocada para a militância clandestina no Rio de Janeiro.Valdir Sales Sabóia foi soldado da PM na Guanabara e não foi possível reunir outros registros de sua biografia e militância política, além da informação contidano “livro negro” do Exército, apontando-o como participante da conferência de fundação do PCBR, no Rio de Janeiro, em 11 e 12 de abril de 1968.A versão sobre as seis mortes, divulgada pelo serviço de Relações Públicas do I Exército, em 17/01/1973, sob o título “Destruído o Grupo deFogo terrorista do PCBR/GB”, informava que, em ações simultâneas em pontos diferentes do Estado da Guanabara, teriam morrido os seismilitantes, um ficara ferido, outro escapara ao ser perseguido, e dois foram presos. Não informava os nomes dos presos e do ferido, masassumia a prisão em Recife, em 26/12/1972, de Fernando Augusto, que fora levado para o Rio de Janeiro. Enquanto um grupo de agentesteria se deslocado com Fernando para o bairro do Grajaú, onde havia um “ponto”, outro grupo cercara uma casa na Rua Sargento ValderXavier de Lima nº 12, fundos, em Bento Ribeiro, onde teriam morrido Valdir Sales Sabóia e Luciana Ribeiro da Silva (Lourdes Maria Pontes).No Grajaú, teriam morrido Fernando Augusto, José Silton, José Bartolomeu e Getúlio. Fernando teria sido morto pelos companheiros, aoaproximar-se do carro que, em função do tiroteio, pegara fogo. No interior do carro, três corpos totalmente carbonizados, conforme laudode perícia de local, tornando impossível sua identificação. O outro ocupante, ferido, conseguira fugir.Nunca se soube quais foram os presos, quais os feridos, quem se rendeu, nem os que conseguiram fugir. Para todos os conhecedores dosmétodos utilizados pelos órgãos da repressão política, a versão oficial já levanta suspeitas em função do endereço da casa em Bento Ribeiro:rua Sargento Valder Xavier de Lima, nome de um militar morto em 1970 em Salvador (BA) por militantes do mesmo PCBR, conformejá descrito. O registro de ocorrência da 20ª Delegacia de Polícia informa: “Às 0:40 horas, o 2° tenente Paixão comunicou que compareceuà rua Grajaú para tomar conhecimento de ocorrência envolvendo automóvel incendiado. Todavia foi informado que se tratava, apenas, dediligência de interesse da Segurança Nacional. Chegando ao local, constatou a presença do delegado do DOPS Gomes Ribeiro, que afirmoutratar-se de serviço de rotina do interesse da Segurança Nacional”.A verdade dos fatos não foi recuperada, mas ficou comprovado o teatro montado para a falsa versão oficial, constatada nos próprios documentosoficiais localizados no IML e no Instituto Carlos Éboli , que realizou as perícias de local.| 322 |

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