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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOSrestos mortais. Por essa razão, recomenda-se ainda que eventuaisdepoimentos sejam tomados garantindo-se a prerrogativa de sigiloàqueles que se dispuserem a fornecer informações”.São apresentados a seguir os 64 casos correspondentes à Guerrilhado Araguaia que foram trabalhados no âmbito da CEMDP. Apenastrês desses nomes não integravam o Anexo contendo 136 desaparecidospolíticos reconhecidos pela Lei nº 9.140/95: Antônio FerreiraPinto, conhecido até então apenas como “Antônio Alfaiate”,e Pedro Matias de Oliveira, que ainda não é possível concluir se éou não Pedro Carretel, e Antônio Araújo Veloso, morto quatro anosmais tarde em conseqüência das torturas sofridas. Um dos nomesconstantes no Anexo, Francisco Manoel Chaves, não teve processoaberto na Comissão Especial porque não foi possível localizar seusfamiliares, não obstante inúmeras tentativas.LOURIVAL MOURA PAULINO ( ? - 1972)Número do processo: 010/96Filiação: Jardilina Santos Moura e Joaquim Moura PaulinoData e local de nascimento: não constaOrganização política ou atividade: não definidaData da morte: 21/05/1972Data da publicação no DOU: Lei nº 9.140/95 – 04/12/95A primeira morte de um prisioneiro no Araguaia foi a do barqueiro Lourival, morador da região, de aproximadamente 55 anos, que tambémmantinha atividade como lavrador. Preso em 18 de maio de 1972 pelo Exército, sob a suspeita de colaborar com a guerrilha, uma vez queera visto como muito amigo de Osvaldão, foi encontrado morto na delegacia de polícia de Xambioá, como se tivesse se enforcado.No processo policial arquivado naquela cidade – nº 105/90 de 17/09/1990 -, encontrado pela comissão de familiares, representantes deentidades de <strong>Direito</strong>s Humanos e parlamentares que visitou a região em abril de 1991, consta que Lourival deu entrada na Delegacia deXambioá no dia 18/05/1972, aproximadamente às 15h30min, após ser detido pelo Exército, a fim de ser interrogado por suspeita de subversão.Três dias depois, teria se suicidado com a corda da rede de dormir que o filho lhe trouxera. O delegado de Xambioá, à época, eraCarlos Teixeira Marra e o carcereiro era o 2° sargento da Polícia Militar Salomão Pereira de Souza.No livro A Lei da Selva, do jornalista e historiador Hugo Studart, consta a seguinte passagem na nota 78, da página 118: “Segundo narrativade um militar (operava em Xambioá quando morreu o barqueiro), Lourival era muito popular em toda a região. O Exército já estava acantonadopróximo da cidade, à beira do rio, e, como medida de segurança, isolou a área com arame farpado. Encontraram Lourival na cozinha doacampamento. Os militares teriam acreditado que ele tentava envenenar a comida da tropa. Preso, parentes dele levaram uma rede para quepudesse dormir. Lourival teria se enforcado com essa rede. Narrativa oral de Fernando (codinome), a 5 de abril de 2002”O filho do barqueiro, Ruiderval Miranda Moura, que tirou a corda do pescoço do cadáver, afirma que a corda usada não era a que ele levoue, sim, uma diferente, mais fina e lisa. O delegado assinou, no dia 22/05, uma autorização de remoção do corpo para Marabá, a fim de serentregue à família para sepultura. No depoimento do ex-preso político José Genoíno Neto, em Auditoria Militar, à época, ele afirmou que“quando estava na cadeia de Xambioá, na cela ao lado foi enforcado um lavrador que se chamava Lourival Paulino’’.No livro O Nome da Morte, do jornalista Klester Cavalcanti, onde é contada a história do matador de aluguel Júlio Santana, aparecemnovas informações sobre a morte de Lourival. Segundo depoimento de Júlio, que na época, aos 17 anos, foi contratado como mateiro peloExército, Lourival foi torturado por duas noites seguidas pelo delegado Carlos Marra e por soldados do Exército. Júlio conta que, ao chegarà delegacia, no dia 21/05 pela manhã, “(...) A imagem era assustadora. O corpo de Lourival estava suspenso, a meio metro do chão, amarradopelo pescoço a uma viga de madeira do teto e vestido apenas com a cueca. Os olhos esbugalhados, pareciam pintados de vermelho. Do ladoesquerdo do rosto, o barqueiro tinha um inchaço roxo, do tamanho de uma laranja. A barriga apresentava marcas avermelhadas e longas, queJúlio adivinhou ter sido feitas por pauladas com o cabo de vassoura que viu jogado no canto da cela. (...) As mãos do morto estavam amarradaspara trás.(...)” (páginas 124 e 125)| 203 |

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