11.07.2015 Views

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEos diretores dos hospitais onde estivera internada. Não encontrava ninguém. Oldack Miranda e Emiliano José descrevem em seu livro: “(...)Ela não se conformava com a morte da filha, chorava, andavas pelas ruas da cidade, delirava e gritava: — Eles mataram minha filha, umacriança! Eles mataram minha filha. São assassinos, do Exército, do Governo. Estão matando estudantes... Até que aparecia alguém e a levavapara casa. Mas em qualquer lugar recomeçava de repente a gritar, a falar contra o Governo. Incomodava.(...)”.Em certa ocasião, quando bradava pelas ruas a morte de Nilda, Esmeraldina foi detida pela Rádio Patrulha, levada à Secretaria de SegurançaPública e liberada, por intervenção de uma amiga que a vira chegar presa. Recebeu, tempos depois, a visita de um estranho que lhelevara um recado, dizendo: “o major mandou avisar à senhora que se não se calar, nós seremos obrigados a fazê-lo”. Mas Esmeraldina nãose intimidou e não se calou — as praças de Salvador acolhiam sua angústia e suas denúncias.A CEMDP fez diversas diligências na busca da verdade, mas nenhuma informação adicional foi acrescida ao processo que, além do relato,contém depoimentos de alguns dos amigos que viram os protestos em praça pública e tiveram conhecimento das ameaças que sofria.O relatório da CEMDP constata que a angústia e o desespero pela morte de sua filha deixaram Esmeraldina inconsolável, ao se ver envolvidanuma trama semelhante à personagem de Kafka em O Processo: cada passo voltava à primeira instância. Destaca, ainda, o relato da filhaLeônia de que a mãe, um dia antes de morrer, comprara novos móveis para a casa e que, ao encontrar a mãe dependurada, pudera ver marcasde sangue no chão, que sua face não estava arroxeada, nem sua língua estava para fora, que não houvera deslocamento da carótida, eque mal trazia marca do fio no pescoço.A CEMDP considerou que a documentação confirmava que a morte de Esmeraldina Carvalho Cunha se deu em conseqüência de seus atospúblicos contrários aos interesses da época, resultantes de seu inconformismo e conhecimento das atrocidades praticadas por agentes dopoder público.JUAN ANTÔNIO CARRASCO FORRASTAL (1945-1972)Número do processo: 167/2004Filiação: Olga Forrastal de Carrasco e Antônio Carrasco de BustilloData e local de nascimento: 30/01/1945, La Paz (Bolívia)Organização política ou atividade: não definidaData e local da morte: 28/10/1972, na EspanhaRelator: Augustino VeitDeferido em: 16/02/2006 por unanimidadeData de publicação no DOU: 06/03/2006Boliviano de La Paz, o estudante Juan Antônio Carrasco Forrastal chegou ao Brasil, junto com o irmão Jorge Rafael, sonhando em se tornarfísico. Deixou o Brasil alguns anos depois, com seqüelas físicas e mentais irreversíveis, após ser seviciado e ter os órgãos sexuais queimadosnas dependências do 2º Exército e no quartel de Quintaúna, em 1968. Tentou tirar a própria vida cortando os pulsos e, passados alguns meses,em 1972, suicidou-se no Hospital da Cruz Vermelha, na Espanha, arrancando os aparelhos que o mantinham vivo. Juan era hemofílico,usuário de uma prótese na perna e sem envolvimento político.A saga dos irmãos Forrastal começou quando Jorge foi preso durante a invasão do 2º Exército ao campus da USP em dezembro de 1968.Jorge, que como o irmão obtivera os primeiros lugares no concurso da embaixada do Brasil na Bolívia para estudos universitários, cursavaEngenharia e, na ocasião, dormia no CRUSP, junto com outros professores e funcionários residentes no local. Ao saber do fato, Juan saiu àsua procura e também acabou preso no 2º Exército. A bengala e a perna mecânica foram retiradas e, por ser hemofílico, os golpes recebidoslhe produziram derrames pelo corpo inteiro.| 314 |

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!