11.07.2015 Views

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEViajou para a antiga Tchecoslováquia (atual República Tcheca), onde cursou até o 3º ano de Engenharia de Minas, em Praga. Em sua homenagem,o escritor tcheco Cytrian Ekwensi escreveu, em 1962, o livro O homem que parou a cidade(“Lidé z mesta”). O guerrilheiro só contouesse segredo, em 1963, à sua irmã Irene Orlando, que recebeu, com uma dedicatória, um exemplar do livro. Por sua militância política, foiobrigado a viver na clandestinidade logo depois de abril de 1964, quando já militava no PCdoB.Quando chegou ao Araguaia entrou na mata como garimpeiro e mariscador, tornando-se o maior conhecedor da área entre os militantesdo PCdoB ali instalados. No ano de 1969, fixou residência numa posse que adquiriu às margens do Rio Gameleira. Sobre Osvaldão surgiraminúmeras lendas. Sobre sua bondade, sua força, sua coragem e também sobre sua pontaria. Foi comandante do Destacamento B, onde participoucom êxito de vários combates. Foi, ao lado de Dina, o mais conhecido dos militantes do PCdoB entre a população do Araguaia.Estava no acampamento da Comissão Militar quando ocorreu o ataque das Forças Armadas no dia de Natal de 1973, conseguindo escapar.Segundo depoimentos de moradores da região, foi morto em abril de 1974, próximo à Semana Santa, perto de São Domingos. Seu corpofoi dependurado por cordas em um helicóptero que o levou de Saranzal, local onde foi morto, até o acampamento militar de Bacaba e delá para Xambioá. Na primeira vez em que o cadáver foi içado pelo helicóptero, caiu e fraturou ossos da perna. Posteriormente, sua cabeçafoi decepada e exposta em público. Na base militar de Xambioá, seu cadáver foi violado por chutes, pedradas e pauladas dadas pelos militares,sendo finalmente queimado e jogado no buraco conhecido como “Vietnã” (vala situada ao final da pista de pouso da Base Militar deXambioá), onde eram lançados os mortos e moribundos. Com o término das operações militares, foi feita uma grande terraplanagem paradescaracterizar o local.José Rufino Pinheiro, que durante 6 meses e 16 dias ajudou o Exército na mata, entre 1973 e 1974, afirma ter presenciado a morte de Osvaldão,quando guiava um batalhão com 32 soldados. Segundo declaração prestada por ele, em 05/07/2001, ao Ministério Público Federalem São Domingos do Araguaia, Osvaldão foi morto na capoeira do Pedro Loca, junto da Palestina, por volta de 4 horas da tarde, por ArlindoPiauí, que era guia formado (homem de confiança do Exército). José Rufino conta que Osvaldão, muito magro e com fome, estava de costas,comendo macaxeira sentado num tronco caído, quando foi alvejado. Segundo o guia, ele foi atingido com um tiro só, de uma cartucheira12, e o corpo foi levado pelo Exército para Xambioá, sendo um dos últimos guerrilheiros a ser morto.Os relatórios militares trazem datas diferentes das relatadas pelos moradores da região, unânimes na afirmação de que Osvaldão foi mortoem abril de 1974. O Relatório do Ministério do Exército, de 1993, aponta como data da morte 07/02/1974, informando ainda que Osvaldãoteria realizado curso de guerrilha na Escola Militar de Pequim e que seria responsável pela execução de Pedro Ferreira da Silva, apontadocomo guerrilheiro, mas na verdade um grileiro de terras e informante das forças de repressão. O Relatório da Marinha, também de 1993,indica 02/01/1974 como data de sua morte.Hugo Studart, em A Lei da Selva, informa que o Dossiê Araguaia registra a morte em abril de 1974, o que coincide com dezenas de depoimentoscolhidos entre moradores locais. Studart acrescenta, ainda, que seu corpo foi enterrado no cemitério de Xambioá, mas no anoseguinte foi exumado e levado para ser queimado na Serra das Andorinhas.O livro de Taís Morais e Eumano Silva, “Operação Araguaia”, discorre sobre suas atividades e sua morte: “Dava especial atenção ao treinamentomilitar e mostrava-se crítico com o despreparo dos companheiros. Matou um militar em encontro casual na mata e participou daexecução de um morador. Tornou-se lenda na área da guerrilha. No imaginário da população, Osvaldão adquiriu fama de imortal. Os soldadosinexperientes tremiam de pavor quando ouviam histórias sobre o gigante invencível. Os agentes secretos caçavam o comandante negroe ofereciam recompensa para quem informasse seu paradeiro. O mateiro Arlindo Piauí viu Osvaldão sentado na mata e, antes de qualquerreação do guerrilheiro, atirou e matou o mais famoso dos comunistas do Araguaia. A Marinha registra a morte em 7/2/74. O corpo foi içadopelo helicóptero e mostrado em toda a região antes de ser levado para a Base de Xambioá”.| 250 |

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!