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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEOcorrendo uma série de prisões de membros da ALN em abril de 1970, o casal foi identificado pelos órgãos de segurança do regime militar.Colegas da Editora Abril ajudaram Capozzi a fugir, quando a OBAN tentou prende-lo no trabalho. O casal passou a viver na clandestina eseguiu de navio para Montevidéu. Daquele país vizinho os dois militantes seguiram para Cuba, onde participaram de treinamento militar eJane trabalhou na Rádio Havana.Com a cisão ocorrida na ALN, Jane Vanini passou a integrar o MOLIPO e regressou ao Brasil em setembro de 1971. Do chamado Grupo dos28, que fundou essa nova organização, Jane ficou entre os 12 que conseguiram sobreviver após a seqüência de prisões e mortes impostapelo aparelho de repressão entre novembro de 1971 e maio de 1973, mas terminou executada pelos órgãos de segurança da ditadura-irmãno Chile. Durante sua permanência clandestina no Brasil, documentos dos órgãos de segurança informam que Jane teria se estabelecido,com Sergio Capozzi e Otávio Ângelo (reconhecido fotograficamente) num aparelho rural do MOLIPO na região do rio Lages, entre Araguainae Vanderlândia, no atual estado do Tocantins.Conseguiu sair do Brasil e se refugiou no Chile durante o governo de Salvador Allende, passando a militar no MIR – Movimento de IsquierdaRevoLúcionaria. Trabalhou na Revista Punto Final até 1973, quando já tinha se separado de Capozzi e casado com o jornalista chilenoJosé Carrasco Tapia, conhecido como Pepe Carrasco, dirigente do MIR. Seu novo nome era Gabriela Hernandez. Com o golpe militar quederrubou Salvador Allende, recusou-se a deixar o Chile e novamente passou à clandestinidade. Foi morar com Pepe em Concepción, agorasob a identidade Carmen Carrasco Tapia.No dia 06/12/1974, ao meio-dia, Pepe foi preso pela polícia fascista de Pinochet. A clandestinidade impunha regras a serem seguidas comrigidez. Jane e Pepe tinham um horário certo para estar em casa. Aquele que não voltasse teria sido preso. Após esse horário, o combinadoé que poderiam tentar sobreviver às torturas informando onde moravam. Nesse dia, Pepe não voltou e Jane procurou outros militantes doMIR para saber se tinham alguma informação sobre sua ele. Se ele estivesse vivo, queria tentar resgatá-lo das mãos da DINA, a implacávelpolícia política de Pinochet. A ação proposta por ela foi descartada, mas, sentindo a determinação de Jane, seus companheiros do MIRchegaram a trancá-la num banheiro, buscando preservar sua vida.Por volta de 22 horas, Pepe tinha certeza de que Jane já não estaria em casa. Agüentou a tortura muitas horas além do teto combinado. Masela tinha conseguido fugir pela janela do banheiro e, voltou para casa, esperando resgatar seu companheiro. Resistiu sozinha durante quatrohoras e os agentes policiais, que não esperavam resistência, chegaram a pensar que ali estivessem muitos guerrilheiros. Pediram reforços, atéque Jane foi ferida e presa. Na casa, ficara um bilhete para Pepe, com os dizeres “Perdóname mi amor, fue un último intento por salvarte”.Da prisão, Pepe somente conseguiu escrever para a família de Jane em março de 1975. Tinha o endereço de uma das irmãs, Dulce, aquem Jane sempre tratou por Madrinha. Pepe cumpriu sua pena e, libertado, seguiu para o exílio. Retornou ao Chile em 1984, mas, em08/09/1986, cinco horas depois de um grave atentado contra a vida do ditador Augusto Pinochet, foi retirado de sua casa por agentes daDINA e assassinado a tiros.Ao conhecer a história de Jane, o deputado Nilmário Miranda, presidente da Comissão de Representação Externa da Câmara dos Deputadossobre Mortos e Desaparecidos Políticos, realizou diversas gestões junto ao governo chileno que, em dezembro de 1993, reconheceu suaresponsabilidade pela morte de Jane Vanini, determinando o pagamento de uma pensão à sua mãe.Na CEMDP, o processo referente a este caso foi indeferido, por unanimidade, sob o entendimento de que a morte ocorreu no Chile, sem quese tenha comprovado, com as informações e documentos disponíveis até o presente momento, qualquer responsabilidade ou envolvimentode agentes do Estado brasileiro.Dentre outras homenagens no Brasil e Chile, a Universidade do Estado de Mato Grosso deu o nome de Jane Vanini ao seu Campus Universitárioem Cáceres. Os restos mortais nunca foram localizados, embora tenha ocorrido um erro de comunicação, em maio de 2005, entre autoridadesbrasileiras e chilenas, que levou à divulgação pela imprensa de que eles tinham sido encontrados num cemitério clandestino de Concepción.

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