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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEde busca pelos corpos continuem. “Se não existemmais arquivos, como alegam os militares, muitas daspessoas que participaram daqueles episódios estãovivas. A tomada de seus depoimentos poderá trazerinformações decisivas para chegar à localização dosdesaparecidos no Brasil”.Maria Eliane Menezes de Farias representante do MinistérioPúblico Federal na CEMDP, desde 2003, consideraa nova fase de trabalhos da Comissão de extrema importânciapara passar a limpo esse período da históriado país. “Passada a fase de julgamento dos processos epagamento das indenizações, os membros da CEMDPtêm agora mais condições de se dedicar e ir às últimasconseqüências na busca e identificação dos restos mortaisdos mortos e desaparecidos”, afirma.Banco de DNAA dificuldade enfrentada para identificar os restos mortaisdos desaparecidos é marcada por histórias quasesurrealistas. Uma delas é a ossada batizada como X-2pelo grupo de legistas argentinos. Ela foi encontradano cemitério de Xambioá no começo dos anos 90, masos técnicos da Unicamp tornaram a enterrá-la depoisde descartarem a possibilidade de pertencer ao gaúchoJoão Carlos Haas Sobrinho, o Dr. Juca.Em 1996, quando os argentinos voltaram ao local, osossos foram recolhidos outra vez para novo exame. Procedimentosburocráticos e a falta de verbas atrasaram oprocedimento. A ossada X-2 acabou depositada em umacaixa na Polícia Federal de Brasília, enquanto a irmã deJoão Carlos, a professora Sônia Haas, e os membros daComissão Especial pleiteavam exame de DNA.Por essa época, surgiram denúncias de que as ossadas estavamabandonadas e malconservadas, o que dificultariaa identificação. Nilmário Miranda, então ministro da SecretariaEspecial dos <strong>Direito</strong>s Humanos da Presidência daRepública, tomou a iniciativa de levar amostras da ossadaa Buenos Aires para fazer o exame, uma vez que, pelasinformações então existentes, o Brasil não disporia de tecnologiapara isso. O resultado comparativo com a amostrade sangue dos familiares deu negativo.Ao examinar o caso de uma brasileira morta no Chile,Jane Vanini, constatou-se que o exame de DNA eraassinado por um laboratório brasileiro, o Genomic.Descobriu-se, então, que ainda na década de 1980 omesmo laboratório tinha procurado a Unicamp e seoferecido para desenvolver uma tecnologia especialpara identificação de ossadas. A sucessão de fatoslevou a Comissão a pedir ao governo providênciasneste sentido.Somente muitos anos depois, em 2006, o projeto deconstruir um banco de DNA foi finalmente colocadoem prática. Solucionados os morosos procedimentosde licitação, foi firmado um contrato com o Genomic– Engenharia Molecular. A coleta de sangue dos familiaresteve início em 25 de setembro, em São Paulo,num evento realizado conjuntamente pela SecretariaEspecial dos <strong>Direito</strong>s Humanos, pela Comissão de Familiaresde São Paulo e também pelo Grupo Tortura NuncaMais, com apoio do Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento (PNUD). O local escolhido foi a antigaFaculdade de Filosofia da USP, na rua Maria Antonia,por seu significado simbólico de sítio histórico ondeocorreram enfrentamentos entre estudantes e forçasrepressivas no ano de 1968.Esse tipo de evento repetiu-se em Recife, Salvador, Riode Janeiro e Belo Horizonte, estando em curso um planode coleta individualizada em todo o Brasil. Em marçode 2007 foi coletado, em San Lucido, pequena cidadeda Calábria, na Itália, material genético de uma senhoraitaliana de 90 anos, Elena Gibertini Castiglia, mãede Libero Giancarlo Castiglia, um dos desaparecidos noAraguaia.A fundadora do Movimento Tortura Nunca Mais de Pernambuco,Amparo Araújo, foi uma das primeiras pessoasa recolher material para o banco de DNA. Espera localizare fazer o reconhecimento do corpo de seu irmão, Luiz AlmeidaAraújo, morto em São Paulo em 1971. Acredita queLuiz deve ter sido enterrado na vala de Perus.Os exames de DNA já conseguiram identificar, quase 15anos depois da localização daquela vala, os restos mortaisde Flávio Molina e Luiz José da Cunha. Os restos mortais de| 46 |

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