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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEde Carvalho Troiano) foram ao encontro dos dois que haviam levado o rapazinho. Não encontraram. À tarde, novamente Sônia e Wilson(elemento de massa) voltaram ao local de encontro. Recomendou-se que não fossem por um pizeiro antigo, pois ali poderia haver soldadosemboscados. Acontece que Sônia acabou indo pelo pizeiro e, como decidisse caminhar descalça, deixou a botina no caminho. Quando voltounão encontrou a botina. Pensou que fosse brincadeira de gente de massa. Chamou por um nome conhecido. Apareceu uma patrulha do Exércitoque atirou nela, deixando-a ferida. Os soldados – segundo relatou gente de massa – perguntaram-lhe o nome. E ela respondeu que erauma guerrilheira que lutava por liberdade. Então o que comandava a patrulha, respondeu: ‘Tu queres liberdade. Então toma...’ - desfechouvários tiros e matou-a. Wilson conseguiu escapar”.O “livro negro do terrorismo”, elaborado pelo CIE por determinação do ministro Leônidas Pires Gonçalves, registra: “Ainda no mês de outubro,nessa mesma região, helicópteros assinalaram um grupo de terroristas deslocando-se pela estrada que demanda a São Domingos.Orientada uma patrulha para a área, houve o encontro do qual resultou um terrorista morto e possivelmente pelo menos um ferido. O mortoseria identificado como Lúcia Maria de Souza (Sônia)”.O relatório do Ministério do Exército afirma que “foi morta no dia 24/10/1973, em confronto com as forças de segurança ocorrido entreXambioá (GO) e Marabá (PA)”. Em entrevista à revista IstoÉ(04/09/1985), o então major Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, - atual-mente coronel da reserva e um dos primeiros oficiais do CIE enviado para o Araguaia - revelou que Lúcia foi ferida, caiu e sacou um revólverescondido na bota, ferindo-o no braço e a um capitão do CIE, Lício Augusto Ribeiro Maciel no rosto.Com base no Dossiê Araguaia, escrito por militares que participaram da repressão à guerrilha, o jornalista Hugo Studart explica que a guerrilheira,mesmo ferida, se arrastou, embrenhando-se na mata, sendo perseguida por dois militares do Exército, um deles chamado JavaliSolitário ou J. Peter, suboficial, e o outro sargento, de codinome Cid, autor do relato: “Era umas 17h30 e já escurecia. Eu e o Javali fomosatrás da Sônia, que havia entrado em uma mata de capim de mais ou menos um metro de altura. Quando chegamos, ela estava deitada decostas, com o 38 ainda na mão, muito ferida. Respirava com dificuldade, tinha muitas balas de 9 milímetros no corpo (...) Ao chegar, ela quislevantar a arma. Eu pisei em seu braço e perguntei seu nome. Ela disse: ‘Guerrilheiro não tem nome’. Eu respondi: ‘Nem nome nem vida’. Eue o Javali apontamos juntos nossas metralhadoras para dar o tiro de misericórdia. Não soltamos mais os gatilhos. Ela ia morrer mesmo, sóreduzimos o sofrimento dela. Só paramos quando as balas das nossas metralhadoras terminaram. Ela ficou com mais de 80 furos”.Elio Gaspari, em A Ditadura Escancarada, descreve com detalhes a morte de Lúcia Maria, a Sônia, e desfaz fantasias de algumas importantesfontes militares sobre o episódio. No que tange ao general Hugo Abreu, o jornalista relata: “Anos depois, o general Hugo Abreu, que comandavaa tropa pára-quedista, contou a seguinte história: ‘Lembro-me de um casal que matamos – eles mataram um major e eu tive de mandarmatá-los. A moça deveria ter uns vinte anos e era belíssima, o rapaz, uns 25 anos. Digo a vocês que não sentia ódio dos guerrilheiros. No casodesse casal, o que senti foi pena’. Hugo Abreu revelava o seu mundo de fantasias. Não morreu major no Araguaia. A guerrilheira não foi mortapor ordem de ninguém, mas na cena do combate em que feriu os dois oficiais. O acompanhante de Sônia não tinha 25 anos, nem morreu. Eraum adolescente e fugiu. Foi achado dias depois e sobreviveu à guerrilha. Três moradores da região asseguram que o corpo de Sônia ficou nalama da Borracheira. Tornou-se repasto de animais”.ARILDO AÍRTON VALADÃO (1948–1973)Número do processo: 202/98Filiação: Helena Almochdice Valadão e Altivo Valadão de AndradeData e local de nascimento: 28/12/1948, Itaici (ES)Organização política ou atividade: PCdoBData do desaparecimento: entre 24 e 26/11/1973Data da publicação no DOU: Lei nº 9.140/95 – 04/12/95| 222 |

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