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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOSO jornalista Elio Gaspari descreve em A Ditadura Escancarada: “O Exército oferecia mil cruzeiros por ‘paulista’ capturado. Era dinheiro suficientepara a compra de um pequeno pedaço de terra. Esse tipo de incentivo, associado à intimidação, levou um camponês a denunciar umguerrilheiro com quem tinha boas relações. Deveria entregar-lhe um rolo de fumo e avisou o Exército. Cinco ‘paulistas’ foram para as proximidadesdo lugar onde deveria ser deixada a encomenda. Um deles, Jorge, aproximou-se. Ouviram-se três rajadas. Bergson Gurjão Farias, 25anos, ex-aluno de química na Universidade Federal do Ceará, tornou-se o primeiro desaparecido da guerrilha”.MARIA LÚCIA PETIT DA SILVA (1950-1972)Número do processo: 033/96Filiação: Julieta Petit da Silva e José Bernardino da Silva JúniorData e local de nascimento: 20/03/1950, Agudos (SP)Organização política ou atividade: PCdoBData do desaparecimento: 16/06/1972Data da publicação no DOU: Lei nº 9.140/95 – 04/12/95Maria Lúcia Petit da Silva foi a única desaparecida na Guerrilha do Araguaia, até agora, que teve resgatados os seus restos mortais. Mortaaos 22 anos de idade, foi sepultada pela família em Bauru (SP) no dia 16/06/1996. Estava desaparecida desde 1972.Cursou o primário, o ginasial e os dois primeiros anos do Curso Normal em Duartina, vindo a concluí-lo em São Paulo, no Instituto de EducaçãoFernão Dias, em 1968, quando participou do Movimento Estudantil secundarista. Em 1969, prestou concurso para o Magistério. Foiprofessora primária em Vila Nova Cachoeirinha, na capital paulista.No início de 1970 tomou a decisão de desenvolver sua atividade política no interior do Brasil. Militante do PCdoB, foi para Goiás e, emseguida, para o Sul do Pará, fixando-se na área de Caianos. Trabalhou na região ensinando as crianças, a quem dedicava muito carinho, etambém em atividades de plantio, conquistando grande simpatia entre os moradores das redondezas.Conforme depoimento de Regilena Carvalho Leão de Aquino, uma das poucas sobreviventes da guerrilha e companheira de Jaime Petit,irmão de Maria Lúcia, “as primeiras horas do dia 16 de junho de 1972, a menos de 2 km da casa do ‘João Coioió’, Jaime (Jaime Petit da Silva),Daniel (Daniel Ribeiro Callado) e eu, fomos acordados com o disparo de um tiro ao longe e um outro tiro em seguida. Da mesma direçãodos sons dos disparos, metralhadoras foram acionadas, quando o ruído distante de um helicóptero em movimento tornava-se próximo dasimediações. Estávamos acampados na retaguarda para aguardar Maria (Maria Lúcia Petit da Silva), Cazuza (Miguel Pereira dos Santos) eMundico (Rosalindo de Souza) para ajudá-los no transporte dos mantimentos encomendados ao ‘João Coioió’. Retiramo-nos imediatamentee, ao final da tarde, acampamos nas cabeceiras da chamada Grota da Cigana. Momentos mais tarde, enquanto preparávamos o jantar, milhomaduro em água de sal, cozido em fogo brando, para esperar os três companheiros ausentes, surgiram Cazuza e Mundico, ensopados de suore aflição. Perguntei pela Maria e a resposta do Cazuza foi direta e crua: ‘a reação a matou’”.Regilena conta também que quando esteve presa na base militar de Xambioá, alguns oficiais mostraram-lhe objetos de uso pessoal de MariaLúcia, “um par de chinelos de sola de pneu com alças retorcidas de nylon azul claro, e uma escova de dentes de cor amarela e com o caboquebrado”. Ela reconheceu os objetos como pertencentes a Maria, que os guardava em um bornal de lona verde, permanentemente usadoa tiracolo. Segundo Regilena, os militares afirmaram que Maria Lúcia fora enterrada em São Geraldo (PA), cidade em frente a Xambioá, naoutra margem do Araguaia.No Relatório Arroyo consta que, “em meados de junho, três companheiros dirigidos por Mundico (Rosalindo Souza) procuraram um elementode massa, João Coioió, para pedir-lhe que fizesse uma pequena compra em São Geraldo. Coioió já tinha ajudado várias vezes os guerrilheiroscom comida e informação. Ficou acertado o dia em que ele voltaria de São Geraldo para entregar as encomendas. À noitinha desse dia aproximaram-seda casa Mundico, Cazuza (Miguel Pereira dos Santos) e Maria (Maria Lúcia Petit) mas perceberam que não havia ninguém. Cazuza| 205 |

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