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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE1962, com a criação do PCdoB. Quando esses dois partidos passama existir como forças independentes, o PCB começa a ser referidoregularmente como “pró-soviético”, enquanto o PCdoB fica conhecidocomo “pró-chinês”, em virtude do alinhamento assumido nodecorrer do conflito sino-soviético.Em todo esse período o PCB aparece como um partido que defendeum programa de transformações democrático-burguesas,tendentes a desenvolver um capitalismo nacional que é visto comopressuposto para futuras lutas em direção ao socialismo. A revoluçãobrasileira é caracterizada assim como nacional, democrática,anti-oligárquica e anti-imperialista. Estrategicamente, apesar deformulações esporádicas apontando a necessidade de se organizara violência revolucionária das massas como passo necessárioda luta popular, a linha seguida pelo PCB no início dos anos 60,defende cada vez mais claramente uma estratégia de transiçãopacífica. Na esfera tática, a ação do PCB guarda coerência com ospressupostos de seu programa e de sua estratégia: aliança com aburguesia nacional na defesa de medidas protecionistas e nacionalizantese apoio à campanha pelas “Reformas de Base”, o quese fortalece com a posse João Goulart. Por fim, uma condenaçãoresoluta dos grupos trotskistas, maoístas, brizolistas e da esquerdacristã, que propunham uma linha de ação mais agressiva naquelaetapa da vida nacional.Em 1964 o PCB não acreditava na possibilidade de uma ação vitoriosada direita, como muitos já temiam. O Secretário Geral dopartido, Luís Carlos Prestes, chegava a se pronunciar publicamentesobre tal questão, nas vésperas da deposição de Goulart afirmandoque se a direita ousasse atacar a legalidade constitucional teriasua cabeça decepada. Surpreendido, portanto, pelo golpe militarde abril, o PCB sofre seriamente com a repressão. Inúmeros dirigentessão presos e torturados. É desmantelado pela repressãoo aparelho sindical estruturado nas últimas décadas; intelectuaisvinculados ao partido são fustigados, hostilizados, demitidos defunções públicas e processados em todos o país; forjam-se em todosos estados os famosos “IPMs da Subversão” (Inquéritos PoliciaisMilitares), que atribuem ao PCB a responsabilidade por tudoque existiu de apoio ao governo deposto.Superado o primeiro momento do vendaval repressivo, o PCB dedica-sea inventariar as razões da derrota, em novas condiçõesde clandestinidade rigorosa. Polariza-se agudamente o debate. Éprovável que a maior parte dos organismos de base e intermediáriosdo partido tenham uma leitura da derrota como o resultadode uma linha equivocadamente conciliadora. A direção do PCBtambém se divide na avaliação. Um setor expressivo, com nomesde porte de Carlos Marighella, Câmara Ferreira, Mário Alves, Apolôniode Carvalho e a maioria dos dirigentes mais jovens alinha-semais ou menos em torno de tal análise autocrítica. Prestes, noentanto, será a figura mais forte do grupo de dirigentes que esgrimamargumentos opostos: os erros do partido tinham se dado“pela esquerda”, houve precipitação extremista e aventureirismo,era necessária uma linha de maior moderação e avanços lentospara bloquear a reação da direita.Decide-se encaminhar a preparação do 6º Congresso do partido -como fórum soberano para unificar a avaliação. As teses preparatóriasao Congresso, baixadas à base, carregadas da segunda avaliaçãoe reafirmando a linha anterior do PCB como a única correta,despertam forte reação contrária. Desencadeia-se um processo deluta interna que, mais uma vez, culminaria em medidas disciplinaresde destituição, punições e expulsões, acusações mútuas dedivisionismo e abandono do marxismo, golpismo e outros desvioscondenáveis que culminaria à luz das concepções comunistas.Quando, em dezembro de 1967 é realizado o 6º Congresso, osdissidentes já estavam expulsos e só comparecem os aliados deLuís Carlos Prestes. As resoluções do 6º Congresso sacramentamas posições dos que se agruparam em trono de Prestes na condenaçãodo caminho armado e na realização da linha anterior a 64,em todos os seus aspectos básicos. Naquele momento já estavamsedo constituídas, como organizações independentes, as váriasdissidências. Comum a maioria das organizações dissidentes será oprojeto de passar-se imediatamente à preparação da luta armadaguerrilheira, na esteira da maré que varria toda a América Latinaapós o impacto da Revolução Cubana.O PCB condena publicamente a luta armada, combate a campanhapelo voto nulo, encetada por todo o resto da esquerda em1970 e defende a necessidade de manter uma atividade recuadae defensiva durante a escalada repressiva que se seguiu ao AI-5. Reitera seu programa democrático-burguês, sua estratégia detransição pacífica ao socialismo e renova sua tática de avançarsempre amparado nos conceitos de moderação, cautela, flexibilidadee habilidade política. Situando-se à margem da luta armadadesencadeada por outros grupos entre 1968 e 1974, o PCB ficarárelativamente resguardado da repressão seletiva que o novo aparelhode segurança do Regime Militar dirige, num primeiro momento,prioritariamente contra os grupos guerrilheiros. Paradoxalmente,portanto, é no curso dos anos mais duros da repressão pós-64, queo PCB conseguirá reconstruir parcialmente seu aparelho partidá-| 464 |

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