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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOSsua morte, o laudo de necropsia registra que Carlos Eduardo teria sido encontrado morto no interior de um veículo com um tiro. Seu corpofoi registrado no IML/RJ com o nome de Nelson Meirelles Riedel, pela Guia nº 235, da 23ª Delegacia de Polícia. Nota oficial divulgada pelosórgãos de segurança afirma que sua morte ocorreu ao final de tiroteio na praça Avaí, nas proximidades do Méier, cidade do Rio de Janeiro,após tentar abandonar o carro que fora abordado pelos agentes, por volta de 3h30 da madrugada.A versão apresentada, além de inverossímil, é contraditória nos próprios documentos oficiais examinados. O relator da CEMDP analisouo laudo de necropsia e as fotografias da perícia de local. Carlos Eduardo tinha marcas perceptíveis de algemas nos pulsos, o que por si sójá confirma sua prisão com vida e derruba a credibilidade da versão oficial. Os ferimentos em seu corpo comprovam: a trajetória dos 12tiros que recebeu é de frente para trás, o que dificilmente corresponderia aos ferimentos de alguém que estivesse em um banco traseiro doautomóvel metralhado dos quatro lados. A imprensa, que divulgou amplamente sua morte, chamou atenção para o fato de o corpo ter sidoencontrado exatamente no mesmo local onde, tempos atrás, agentes policiais tinham sido rendidos, foram algemados e tiveram a viaturaincendiada. Um dos jornais do Rio noticiou o fato como sendo a morte do sucessor de Marighella.Por unanimidade, a CEMDP acompanhou o voto do relator Nilmário Miranda pelo deferimento do processo.LUIZ HIRATA (1944-1971)Número do processo: 290/96Filiação: Hisae Hirata e Tadayoshi HirataData e local de nascimento: 23/11/1944, Guaiçara (SP)Organização política ou atividade: APData e local da morte: 20/12/1971, São Paulo (SP)Relator: general Oswaldo Pereira GomesDeferido em: 14/05/1996 por unanimidadeData da publicação no DOU: 17/05/1996.Filho de imigrantes japoneses e agricultores, paulista de Guaiçara, na região de Lins, Luiz Hirata estudava Agronomia na Escola Superiorde Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, em Piracicaba. Em 1969 precisou abandonar os estudos, no quarto ano, por perseguição política:era militante da Ação Popular. Em 1971, antes de ser preso e assassinado sob torturas, era um dos cinco coordenadores do movimento deoposição sindical metalúrgica de São Paulo, ao lado de Waldemar Rossi, Cleodon Silva, Vito Gianotti e Raimundo Moreira.Foi preso pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury, do DOPS-SP, em 26/11/1971. Morreu em 20/12/1971 como conseqüência das torturasa que foi submetido ao longo de três semanas. Heládio José de Campos Leme, preso político no DOPS/SP, conviveu ali com Luiz Hirata cerca deduas semanas. Ficaram na mesma cela. Acompanhou, dia a dia, o agravamento do seu estado de saúde, testemunhando que ele voltava dos interrogatórioscarregado pelos policiais. Era Heládio quem carregava Luiz até o sanitário da cela. “Seu rosto ficou tão inchado que ele não podia abriros olhos. Chegou um momento em que ele não mais urinava nem comia: foi quando o levaram, quase inconsciente”.Em 16 de dezembro, quatro dias antes da morte, Fleury tentou justificar as lesões provocadas pelas torturas. Para isso, chamou ao DOPSo legista Harry Shibata, que se tornaria tristemente célebre a partir de 1975 por assinar o laudo que tentou legitimar a farsa do pretensosuicídio de Vladimir Herzog no DOI-CODI/SP. Prontamente, Shibata atendeu ao pedido e produziu um laudo de corpo de delito onde sustentaa estapafúrdia versão que lhe foi ditada pelo delegado torturador: Luiz Hirata havia colidido com a traseira de um ônibus quandotentava a fuga, em alta velocidade, correndo a pé. O legista considerou, então, “de bom alvitre remoção ao Hospital das Clínicas para socorroe providências médicas”.Pode-se imaginar o estado físico em que se encontrava Luiz Hirata, a ponto de suscitar uma justificativa tão inverossímil como essa: Luiz Hiratateria simplesmente atropelado um ônibus ao tentar fugir. O laudo com as recomendações do legista Harry Shibata foi elaborado às 9h15, mas| 193 |

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