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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADESeu corpo entrou no IML/RJ pela guia n° 6 do DOPS/RJ e a certidão de óbito registra: “morto às 18h, no Pátio Externo dos fundos do Edifício doComando do 1° DN”. Assinada pelo legista Gracho Guimarães Silveira, essa certidão confirma a versão oficial de que Célio caiu de uma janela,sofrendo ruptura da aorta, pulmão, fígado, baço e rins. As fotos incluídas no laudo da perícia de local, encontradas no Instituto Carlo Eboli/RJ, mostramvárias escoriações pelo corpo, enquanto documentos informam que “a vítima teria se projetado do sétimo andar da janela de um banheiro aliexistente”. O corpo foi enterrado pela família no Cemitério São João Batista no dia 30/8/1972. A CEMDP não localizou o laudo necroscópico, nemtampouco o inquérito que obrigatoriamente deveria ter sido instaurado para apuração do suposto suicídio de um preso em dependência militar.A conclusão do relator na CEMDP foi de que a morte de Célio Augusto Guedes, mesmo sendo por suicídio, estava plenamente amparada noscritérios da Lei nº 9.140/95. Constatou em ata a ressalva dos conselheiros Nilmário Miranda e Suzana Keniger Lisbôa, de que não aceitavama versão oficial de suicídio, em função das lesões visíveis em seu rosto, pela inexistência do laudo necroscópico e pela ausência do inquéritoque deveria ter sido instaurado para apuração dos fatos.JOSÉ JULIO DE ARAÚJO (1943-1972)Número do processo: 032/96Filiação: Maria do Rosário Correa Araújo e José AraújoData e local de nascimento: 22/07/1943, Itapecerica (MG)Organização política ou atividade: ALNData e local da morte: 18/8/1972, em São Paulo (SP)Relator: Nilmário MirandaDeferido em: 8/2/96 por unanimidadeData da publicação no DOU: 12/2/96Nascido em Itapecerica (MG), foi um dos organizadores, em 1967/1968, da Corrente de Minas Gerais, organização que mais tarde se incorporouà ALN. Em sua cidade natal, onde o pai era comerciante, estudou no Colégio Herculano Paz. Com a mudança de sua família para BeloHorizonte, José Júlio estudou no Grupo Escolar Cesário Alvim e no Colégio Anchieta. Aos 14 anos começou a trabalhar no Banco da Lavourade Minas Gerais, passando a militar muito cedo no PCB. Ao sair do Banco da Lavoura, com 20 anos, foi trabalhar na Socima, empresa deatacados onde seu pai era um dos sócios.Em 1968, em função de perseguições políticas, José Júlio viajou para São Paulo, onde passou a viver e atuar na clandestinidade. Seguiupara Cuba e lá recebeu treinamento militar em 1969. Residiu um ano no Chile antes de retornar ao Brasil. Na última carta que escreveupara a mãe, em abril de 1971, além de reafirmar o amor pela família, pedia aos irmãos Vinicius e Márcio que visitassem os companheirosque estavam presos em Juiz de Fora, levando-lhes cigarros e doces.José Júlio retornou clandestinamente ao Brasil num período em que a política de eliminação física dos militantes já estava evidente, atingindoespecialmente os que retornavam de Cuba. Foi preso em companhia de sua companheira Valderez Nunes Fonseca, no dia 18/08/1972,em um bar do Largo Ana Rosa, na Vila Mariana, em São Paulo, pela equipe C do DOI-CODI. A versão oficial divulgada pelos órgãos desegurança é de que teria sido baleado e morto em uma esquina da rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, para onde teria levado os agentescom a informação de que haveria ali um encontro com companheiros. Chegando ao local, conseguiu apoderar-se da arma de um segurançabancário ou de um dos agentes, existindo as duas versões na imprensa, sendo morto no tiroteio que se seguiu.O laudo necroscópico, mais uma vez assinado por Isaac Abramovitc e também por José Henrique da Fonseca, descreve quatro tiros: no lábio,no ombro direito, na cabeça e no peito, sendo os dois últimos com trajetória de cima para baixo.Valderez sobreviveu à prisão e testemunhou por escrito que, no DOI-CODI de São Paulo, ela e José Júlio foram colocados em celas diferentes.Na primeira fase de seus interrogatórios, os agentes queriam unicamente saber informações sobre José Júlio. Na madrugada do dia seguin-| 308 |

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