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Economia Solidára na America Latina SENAES SOLTEC

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Home<strong>na</strong>gem à A<strong>na</strong> Clara Torres Ribeiro<br />

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um desenvolvimento solidário (…) precisam encontrar o fazer dos lugares, compreendendo,<br />

sem falsos elogios, a força do senso comum e do cotidiano”. É nesse âmbito que<br />

será possível a realização de um acontecer solidário incorporador, onde são respeitados<br />

as lendas e saberes diversos, baseados <strong>na</strong> extensão de relações horizontais, <strong>na</strong> solidariedade<br />

concreta. “Sem a preservação do debate ético das fi<strong>na</strong>lidades do desenvolvimento,<br />

perde-se o princípio da solidariedade no decorrer da própria ação”. Para ela,<br />

o princípio ético contemporâneo baseava-se no reconhecimento da complexidade e no<br />

reconhecimento da diversidade: “são características de todo o sempre, recusadas pela<br />

modernidade de hoje em crise (…). A complexidade e a diversidade são indispensáveis<br />

à inclusão de todos, de todas as técnicas”.<br />

Não restrita à reflexão intelectual, A<strong>na</strong> Clara sempre se preocupou em fazer um chamado<br />

à disputa dos projetos de sociedade. “Germi<strong>na</strong>m no presente diferentes futuros<br />

em disputa. Precisamos participar dessa disputa sem medo de ser utópicos. Sob a égide<br />

da apreensão ideologizada do presente e do futuro, qualquer anseio de solidariedade e<br />

de uma vida justa será considerado pejorativamente utópico”. Questio<strong>na</strong>va o processo<br />

de presentificação das reflexões, numa “busca constante de curtíssima duração”, criando<br />

“um ambiente propício à crença no eterno presente” e contrário ao surgimento de utopias.<br />

Mas para A<strong>na</strong> as utopias precisavam partir do concreto, das imensas possibilidades<br />

criadas pelas pessoas, que chamava de “arte de resolver a vida”, demonstrando um profundo<br />

respeito ao real vivido <strong>na</strong> direção do real sonhado.<br />

Quem teve a oportunidade de conhecer A<strong>na</strong> Clara Torres Ribeiro teve a oportunidade<br />

de conviver com sua sensibilidade a<strong>na</strong>lítica do cotidiano. Embora estivesse<br />

sempre sobrecarregada com suas responsabilidades acadêmicas, A<strong>na</strong> tinha uma capacidade<br />

imensa de ver as coisas, de parar o tempo, de dar atenção ao outro, de fumar seu<br />

cigarro <strong>na</strong> varanda observando os pássaros passeando pelo espelho d’água. A categoria<br />

de Milton Santos do “homem lento” achou em A<strong>na</strong> Clara seu mais bem acabado exemplar<br />

do gênero feminino: a mulher lenta. Inserida em um constante processo intelectual<br />

contraditório e criativo, A<strong>na</strong>, com seu andar lento, sua fala rápida e sua inconfundível e<br />

estrondosa gargalhada, estava sempre à frente, sempre mais veloz, <strong>na</strong> sua descoberta do<br />

mundo. Felizes daqueles que puderam acompanhá-la em alguns momentos, pegando<br />

caro<strong>na</strong> <strong>na</strong> sua sempre elucidativa e sensível forma de ver o mundo.<br />

“Utopia é fruto de um pensamento radicalmente crítico do presente.”<br />

Felipe Addor e Flávio Chedid Henriques

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