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Economia Solidára na America Latina SENAES SOLTEC

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Conclusão 187<br />

Agora, o nó do utilitarismo é que nos promete um futuro radioso, mas sem vínculos sociais, pois oferece<br />

um modelo de relações huma<strong>na</strong>s que vai cortando os vínculos sistematicamente. Esse é um problema<br />

central dessa visão. Mesmo assim, ele foi instituindo <strong>na</strong> sociedade. Primeiro, como uma dimensão i<strong>na</strong>ta<br />

da experiência social moder<strong>na</strong>, como algo que em alguma medida está em todos os lugares. Ao mesmo<br />

tempo, foi alimentando ideologias, gerando organizações políticas e, em certos momentos, convertendo-<br />

-se <strong>na</strong> política hegemônica exercida em países e continentes.<br />

Tivemos uma vaga de políticas liberais, há várias décadas atrás, no limiar do século<br />

XX; tivemos novamente agora, ao fi<strong>na</strong>l desse mesmo século. Quando tais políticas se<br />

instalam, domi<strong>na</strong>m a ce<strong>na</strong> política e comandam a máqui<strong>na</strong> econômica, criam uma impressão<br />

de inversão – de certa forma, não é só uma impressão: o neoliberalismo, para<br />

falar do caso mais recente, virou sinônimo de realidade, a sua ideologia própria virou sinônimo<br />

de totalidade. Por isso, presumo, falava-se tanto contra o pensamento único: não<br />

é que não houvesse outras formas de pensamento, mas uma delas era apresentada como<br />

a única razoável, ao passo que seu sentido maior, de dimensão própria à experiência moder<strong>na</strong><br />

– dimensão primordial, como as demais, mas não exclusiva – praticamente desaparecia.<br />

Melhor dizendo, ficava subjugada a uma forma peculiar oferecida ao seu exercício,<br />

embora <strong>na</strong>quele sentido origi<strong>na</strong>l, relativamente aberto, repouse a pregnância do utilitarismo,<br />

mais do que em suas expressões políticas hegemônicas.<br />

Nosso deficit republicano<br />

Não temos ape<strong>na</strong>s o problema das incertezas anteriores, mas também da hegemonia de<br />

um modelo ao longo da história, que nos parece, em grande medida, oposto àquilo que<br />

queremos fazer. Acho que <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>, pensando em políticas públicas, vemos<br />

também outros obstáculos. Com certeza, a nossa visão de uma esfera pública democrática<br />

se opõe a vários elementos constitutivos de nossa história política, como as iniquidades<br />

sociais, o elitismo, as oligarquias, o populismo e o autoritarismo. Na história<br />

da América Lati<strong>na</strong>, tivemos o predomínio desses elementos. Além do utilitarismo, há<br />

coisas que são nossas. Por conseguinte, nem tudo é culpa do utilitarismo e do capitalismo,<br />

os problemas têm outras fontes também.<br />

Qual é o circuito político predomi<strong>na</strong>nte, em resultado do que se poderia caracterizar<br />

como um deficit republicano de nossa formação política, perceptível ainda em<br />

nossas últimas transições democráticas O que explica o que vimos em 2011, no Brasil,<br />

quando a presidenta foi obrigada a demitir quase um ministro por mês Um circuito<br />

(Figura 2) em que o Estado se relacio<strong>na</strong> de modo fisiológico com as instituições po-

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