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Economia Solidára na America Latina SENAES SOLTEC

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A <strong>Economia</strong> Solidária <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>: realidades <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e políticas públicas<br />

De onde vem isso Provém da nossa formação histórica. Esquematicamente, a sociedade<br />

que temos hoje se origi<strong>na</strong> lá nos séculos XVII, XVIII e XIX, quando três grandes<br />

transformações foram se desenvolvendo: a Revolução Intelectual e Científica, a Revolução<br />

Industrial e as Revoluções Liberais. Sem nenhum fim premeditado, elas culmi<strong>na</strong>ram<br />

em uma noção de indivíduo com três características: o indivíduo é um sujeito<br />

criador, com potencial imagi<strong>na</strong>tivo e cognitivo de criação e o direito legítimo a exercê-<br />

-lo, do plano artístico ao plano econômico; ele também é um sujeito empreendedor,<br />

que transforma a <strong>na</strong>tureza e o mundo com sua inteligência e operosidade; ele é ainda<br />

um sujeito soberano, isto é, dono da sua consciência, do seu livre-arbítrio, devendo ser<br />

respeitado <strong>na</strong>s suas opiniões e nos seus atos. Tem-se aqui um traço muito peculiar da<br />

nossa história moder<strong>na</strong>, que assim nos conduziu a essa questão dilemática da compatibilidade<br />

entre o indivíduo e a sociedade e, posteriormente ou de forma simultânea,<br />

poderíamos dizer, à noção de cidadão, que carrega consigo essa irresolução.<br />

A sociedade moder<strong>na</strong> estruturou-se em torno de alguns pilares fundamentais, não questio<strong>na</strong>dos,<br />

que funcio<strong>na</strong>m como noções motoras do desenvolvimento social e da legitimidade das instituições.<br />

É o caso das noções de razão e de progresso, que levaram ao desenvolvimento da ciência,<br />

conduziram à racio<strong>na</strong>lização cultural e à secularização e promoveram uma concepção histórica<br />

determi<strong>na</strong>da da ordem social. Esses três elementos, a ciência, a razão e o progresso, parecem a<br />

todos como fundamentos irrefutáveis da marcha da humanidade, como forças abrindo um caminho<br />

necessário em direção à civilização e à universalidade: o que fosse erigido a partir desses<br />

três pilares poderia ser legítima e beneficamente aplicado em todas as searas do globo.<br />

Para não dizer outros planetas, como se via até há pouco tempo nos filmes de ficção,<br />

nos quais indefectivelmente os terráqueos saíam a colonizar outras galáxias, ocupadas<br />

por criaturas horrendas e primitivas, pouco importa se inocentes ou pérfidas, pois os<br />

humanos as iriam salvar ou aniquilar, usando para isso o discernimento da razão e o<br />

poder da ciência.<br />

Nos filmes, uma montagem. Na história real, uma situação particular, embora, por<br />

estarmos imersos nela, nos pareça o próprio universo da História. Contudo, atrás dessa<br />

espécie de ilusão de ótica, há um projeto, uma convicção arraigada de que a ciência e<br />

a razão, de mãos dadas, tor<strong>na</strong>m o progresso inevitável. Assim, o futuro que nos espera<br />

não pode ser outra coisa, senão radioso. Que o ambiente pós-moderno semeie sérias<br />

dúvidas a respeito, como, aliás, se observa <strong>na</strong>s artes e se reproduz com fins comerciais<br />

no cinema de ficção, agora dedicado a catástrofes futuristas, ape<strong>na</strong>s tor<strong>na</strong> mais evidente<br />

que as utopias moder<strong>na</strong>s falam de um futuro melhor.

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