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Economia Solidára na America Latina SENAES SOLTEC

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Conclusão 193<br />

abissal, voltando ao esquema de Karl Polanyi, o mínimo a dizer é que as formas de<br />

economia fundadas <strong>na</strong> reciprocidade e <strong>na</strong> administração doméstica – a segunda, eu<br />

preferiria associar, como faz Luis Razeto, ao princípio da comensalidade – crescem<br />

enormemente. O que está à direita do nosso esquema (Figura 5) se avoluma e ganha<br />

precedência frente àquelas duas formas à esquerda, que representam o nosso grande<br />

problema aqui, quando tratado com os olhos do Norte: as relações entre o mercado<br />

e o Estado oscilaram como um pêndulo <strong>na</strong> sociedade moder<strong>na</strong>, às vezes em pendente<br />

keynesia<strong>na</strong>, às vezes em pendente liberal. Esse tem sido o dilema moderno<br />

mais digno de nossa atenção.<br />

Entretanto, quando a gente vai para o outro lado da linha abissal, as coisas ganham<br />

outra configuração. De forma um tanto improvisada, pois o tema requer maior<br />

reflexão, diria que de um melhor entendimento disso poderia resultar um conceito<br />

alargado e incontestável de <strong>Economia</strong> Popular Solidária, carregando em seu cerne<br />

características e imbricações tematizadas por alguns painelistas, mencio<strong>na</strong>das em<br />

termos de simbiose, de identidade de território, de metamorfose etc. Vimos nesse seminário<br />

diversas categorias relacio<strong>na</strong>das ao buen vivir. Ao fundo delas transparece a<br />

função preciosa desempenhada pelos vínculos sociais, em uma dimensão muito mais<br />

ampla e profunda que os vínculos contratuais.<br />

Podemos pensar no paradigma da dádiva, conforme vi em um livrinho excelente,<br />

que recomendo 27 . O autor exami<strong>na</strong> os primórdios da <strong>Economia</strong> Social no Quebec,<br />

em fins do século XIX, quando não havia Estado, nem estruturas coletivas de amparo,<br />

salvo as instituições caritativas, impotentes diante da gravidade das demandas<br />

sociais. Como e por que, nessa época, os operários criaram as caixas de ajuda mútua<br />

Diante das necessidades, funcionou um lastro de solidariedade, cevado em relações<br />

de reciprocidade, no intuito de honrar e preservar vínculos. O que motivou e viabilizou<br />

a <strong>Economia</strong> Social lá não é muito diferente do que hoje sustenta a <strong>Economia</strong><br />

Solidária aqui.<br />

Mas os tempos mudaram e, <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>, temos aquela espécie de arqueologia<br />

viva que mencionei. Entraríamos com isso em outro círculo, que eu chamo brevemente<br />

– referindo-me a um texto publicado por mim e pela professora Adriane Ferrarini 28<br />

– de círculo metautilitarista. Não se trata simplesmente de imagi<strong>na</strong>r uma contraposição<br />

ao utilitarismo, mas vias de superação da supremacia do utilitarismo, dando-<br />

27. PETITCLERC, Martin. Nous protégeons l’infortune: les origines populaires de l’Economie Sociale au Québec.<br />

Montréal: VLB Editeur, 2007.<br />

28. GAIGER, Luiz; FERRARINI, Adriane. Quando o micro não é sinônimo de pequeno: trajetórias, perfis e desempenhos<br />

do microempreendedorismo associativo no Brasil, Moçambique e Portugal. Revista Otra Economía, vol.<br />

IV, nº 7, p. 84-100, 2010.

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