Economia Solidára na America Latina SENAES SOLTEC
Economia Solidára na America Latina SENAES SOLTEC
Economia Solidára na America Latina SENAES SOLTEC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Conclusão 191<br />
manecem atuantes, gerando ambientes e mantendo tradições; por isso, podemos falar<br />
da economia comunitária, da economia familiar e da economia social – agora mencio<strong>na</strong>mos<br />
a <strong>Economia</strong> Social e Solidária. Completa esse quadro a economia pública,<br />
relacio<strong>na</strong>da ao papel redistributivo e estimulador do Estado, assunto estudado ordi<strong>na</strong>riamente<br />
nos cursos de <strong>Economia</strong>. A experiência histórica conduz à percepção de uma<br />
coexistência de diferentes princípios econômicos, não ao exclusivismo ou à autossuficiência<br />
da economia de mercado.<br />
Há pouco tempo, vi um retrato disso no Quebec. Participava do Fórum Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />
de <strong>Economia</strong> Social e Solidária, quando avistei da janela do hotel, <strong>na</strong> paisagem<br />
urba<strong>na</strong> do centro de Montreal, grandes edifícios comerciais, exibindo a pujança da economia<br />
moder<strong>na</strong>, ao lado de uma igreja centenária, testemunhando formas seculares<br />
de solidariedade e coesão social. Observei também estruturas públicas de transporte,<br />
como ônibus e estações de metrô. Em um estacio<strong>na</strong>mento da praça à minha frente, as<br />
bixi, bicicletas de uso público, disponíveis aos cidadãos mediante um simples cadastro<br />
e o pagamento de uma taxa quase simbólica. Esse sistema, já exportado para várias cidades,<br />
é administrado por empresas de <strong>Economia</strong> Social. Historicamente, a propósito,<br />
o Quebec tem sido um exemplo dos benefícios gerados pelo equilíbrio entre os quatro<br />
pilares da economia, o que explica o seu elevado grau de desenvolvimento social.<br />
O predomínio da economia de mercado, que estabelece relações momentâneas, contratuais,<br />
gera uma tendência a que tais relações permaneçam dissociadas dos demais vínculos<br />
e se extingam: findo o contrato, termi<strong>na</strong> o vínculo. A supremacia desse modelo nos<br />
induz a agirmos assim em todas as esferas <strong>na</strong> vida, criando vínculos mediante um cálculo<br />
prévio de nossos interesses, evitando os riscos de um contrato sem prazo determi<strong>na</strong>do e<br />
sem um objetivo preciso, sem deixar que as relações transcendam o foco inicial e se multipliquem.<br />
Esse me parece um dos efeitos – se não premeditado, certamente coerente –<br />
dessa verdadeira obsessão atual das empresas em tratar todos os que usufruem de seus<br />
serviços como clientes, pouco importa o contexto: não existem mais estudantes, passageiros<br />
ou mesmo pacientes, ape<strong>na</strong>s clientes. Não há mais fregueses como dantes, a fidelidade<br />
do consumidor agora é vista a partir de estímulos utilitários, por vezes mal disfarçados,<br />
mas obviamente denegatórios do fim que perseguem. O adágio “amigos, amigos,<br />
negócios à parte” concede à esfera econômica o direito de gover<strong>na</strong>r-se pela lógica do interesse,<br />
sem compromissos com vínculos sociais profundos e duradouros.<br />
Construir outra realidade social e econômica demanda um esforço imagi<strong>na</strong>tivo e um olhar aberto<br />
para a história, de modo que outros vínculos, como aqueles da reciprocidade, se façam presentes<br />
ou tenham a sua presença factual efetivamente reconhecida e legitimada no plano das ideias e das<br />
ações. Quanto a isso, o desafio para as políticas públicas, no conjunto dos países latino-americanos,<br />
se apresenta com dimensões extraordinárias.