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Economia Solidára na America Latina SENAES SOLTEC

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Conclusão 181<br />

Assim, quando falamos de empoderamento, em sujeitos – muito se falou nisso, em empoderar<br />

os cidadãos, <strong>na</strong> construção de sujeitos coletivos –, não é coisa simples. Trata-se de um requisito<br />

essencial e há uma luta social, já há muito tempo, ape<strong>na</strong>s para isso, para constituir essa figura basilar<br />

da democracia. Ainda mais que o cidadão não se apresenta como uma mô<strong>na</strong>da, ele se constitui<br />

conforme participa desse circuito, que realimenta a cidadania.<br />

Aqui nós temos uma tarefa histórica de colossal magnitude, que por vezes a gente<br />

despreza, por achar que seu cumprimento corresponde ao curso <strong>na</strong>tural da evolução<br />

huma<strong>na</strong> e social. Mas não se trata de algo <strong>na</strong>tural, de uma tendência da vida social que<br />

faria as pessoas converterem-se progressivamente em cidadãos, bastando que não se<br />

coloque entraves em seu caminho. A cidadania é construída historicamente, ou não.<br />

Portanto, se queremos, temos que pôr mãos à obra, para atender a uma série de condições,<br />

um conjunto de requisitos, de instituições e hábitos. Há valores em jogo, há condições<br />

políticas indispensáveis, há julgamentos quanto ao que é bom e justo; há, em<br />

suma, uma racio<strong>na</strong>lidade social que organiza a vida <strong>na</strong> sociedade. Nada em tal sentido<br />

se faz da noite para o dia, sem algum consenso em torno de premissas gerais, sem experiências<br />

históricas favoráveis à dissemi<strong>na</strong>ção e consolidação de tais convicções.<br />

Agora, pensando bem, existe aqui uma contradição. Já que falamos em oxímoros,<br />

eu volto a usar esse termo, porque a construção de políticas públicas com os pressupostos<br />

apontados se dá no interior de um contexto histórico específico, composto de<br />

sociedades moder<strong>na</strong>s que inventaram de fazer uma coisa extremamente difícil: termos<br />

sociedades de indivíduos. Duas coisas que se negam: ao longo da história, para termos<br />

sociedades, as pessoas precisaram renunciar em boa medida, ou em quase toda medida,<br />

à condição de indivíduos. O indivíduo, tomado no sentido desse sujeito por <strong>na</strong>tureza<br />

e de direito como entendemos hoje, é algo que acarreta um problema enorme para<br />

a ordem e a coesão social. Em outras sociedades, a solução foi renunciar, ou simplesmente<br />

não se tomou conhecimento dessa noção de indivíduo, ou seja, não havia por<br />

que falar em indivíduos. Houve concessões e abdicações, voluntárias e involuntárias.<br />

Vejam-se as congregações religiosas, as mais tradicio<strong>na</strong>is, quando as pessoas abrem<br />

mão até de seu nome de batismo e passam a ter outro nome, segundo os preceitos da<br />

ordem. É uma renúncia voluntária à condição de indivíduo, no sentido de sujeito autônomo,<br />

soberano, igual aos demais. Nós desejamos manter essas prerrogativas, pois<br />

somos modernos, mas que funcionem para todos em uma sociedade constitui um feito<br />

que nenhum outro evento civilizatório, ao que se saiba, colocou-se de forma tão contundente.<br />

Nada então que se deva menosprezar.

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