Economia Solidára na America Latina SENAES SOLTEC
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A <strong>Economia</strong> Solidária <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>: realidades <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e políticas públicas<br />
que fazem parte da nossa experiência moder<strong>na</strong> e, portanto, está em nós mesmos. Por que<br />
ele venceu, tornou-se predomi<strong>na</strong>nte Há diversas razões, decerto, mas gostaria de ressaltar<br />
que o utilitarismo contém axiomas por demais sedutores. Ele nos assevera, em síntese, que se<br />
cada um procurar espontaneamente o seu próprio bem, definido pessoalmente com o uso da<br />
razão, maior será a felicidade geral. Essa doutri<strong>na</strong> foi criada ao fi<strong>na</strong>l do século XVIII e impulsio<strong>na</strong>da<br />
no século XIX, entre tantas outras filosofias um tanto realistas ou um tanto utópicas<br />
que apareceram, quando se buscava incansavelmente o sentido e a mola propulsora da humanidade,<br />
inquirindo-os não em realidades metafísicas, mas <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza huma<strong>na</strong>.<br />
Não foi só o socialismo que gerou utopias <strong>na</strong>quela época, houve também outras utopias,<br />
algumas baseadas <strong>na</strong> promessa utilitarista, com a qual o capitalismo encontrou<br />
claras afinidades, como suporte do ethos econômico e da legitimidade social de que necessitava.<br />
A utopia utilitarista, sem dúvida, é benéfica, é afim ao espírito do capitalismo.<br />
Nessa visão das coisas, somos criadores, empreendedores e soberanos, isto é, modernos.<br />
Mesmo que não sejamos empreendedores capitalistas, esses axiomas são congruentes<br />
com muitos aspectos da nossa experiência prática do dia a dia, precisamente porque a sociedade<br />
moder<strong>na</strong> se apresenta, para nossa satisfação, constituída de sujeitos responsáveis,<br />
motivados por interesses e aspirações, dotados de razão e discernimento.<br />
Além de sua correspondência com a lógica da economia moder<strong>na</strong>, o utilitarismo foi um<br />
substituto vantajoso para aquela outra estrutura ideológica que estava, digamos assim, promovendo<br />
a ética do capitalismo nos seus primórdios: o puritanismo. É muito melhor trocar<br />
o puritanismo pelo utilitarismo, como foi feito ao longo do século XIX, pois esse último<br />
também nos assegura um futuro radioso, sem o ascetismo já desnecessário e inconveniente<br />
do primeiro. O utilitarismo não é uma visão cínica da existência, não é uma visão egoísta da<br />
existência, embora seja individualista e possua contradições inter<strong>na</strong>s insolúveis 25 .<br />
Precisamos abando<strong>na</strong>r tais raciocínios simplistas, porque com visões míopes desprezamos<br />
a complexidade e a profundidade histórica dos obstáculos que enfrentamos.<br />
Serei enfático nisto: o utilitarismo não é um engodo, um mero artifício, uma invenção<br />
maquiavélica de alguém para ludibriar os demais. Essa é uma posição a descartar, a<br />
menos que sejamos crédulos daquela máxima segundo a qual “todos são bobos e se<br />
deixam ludibriar por coisas que não lhes fazem sentido, exceto nós mesmos, que sabemos<br />
que os outros são bobos”. Essa linha de pensamento, por si<strong>na</strong>l, pela qual a humanidade<br />
rege-se pelo paradigma da alie<strong>na</strong>ção social ou pelas teorias das elites que<br />
conduzem o rebanho, justificou barbáries, como bem sabemos.<br />
25. Análises críticas e fundamentadas do utilitarismo têm sido uma constante do Movimento Antiutilitarista das Ciências<br />
Sociais (M.A.U.S.S.), sediado <strong>na</strong> França. Consultar, por exemplo: CAILLÉ, Alain. Critique de la raison utilitaire.<br />
Paris: La Découverte, 1989. Essas ideias têm sido retomadas <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>. Vale a pe<strong>na</strong> também consultar<br />
o endereço: http://www.jor<strong>na</strong>ldomauss.org/periodico/