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Economia Solidára na America Latina SENAES SOLTEC

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A <strong>Economia</strong> Solidária <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>: realidades <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e políticas públicas<br />

Por isso, eu coloquei um subtítulo nessa comunicação: “aquém e além da linha abissal”. Isto, a<br />

linha abissal, tem um sentido metafórico, que me parece bastante feliz no sentido de nos fazer<br />

ver que, assim como nós experimentamos em nossas sociedades um conjunto de diferenças,<br />

desigualdades e campos de divergência e conflito, mais amplamente falando, nós convivemos<br />

em um mundo que contém diversas histórias, diversas formações sociais e, portanto, realidades<br />

que não podem ser bem compreendidas com as categorias de entendimento usuais em<br />

nossas lutas diretas.<br />

Refiro-me aqui às lutas no campo das sociedades ditas ocidentais – ou do ‘Norte’, <strong>na</strong><br />

expressão metafórica relacio<strong>na</strong>da à linha abissal, que tomo emprestado de Boaventura<br />

de Sousa Santos 21 . Em nosso continente meridio<strong>na</strong>l – o ‘Sul’ geográfico – temos realidades<br />

contraditórias e impasses derivados da coexistência de sociedades anteriores<br />

à chegada e colonização – vinda do Norte – com aquelas novas formas trazidas e impostas<br />

pelo colonizador. Tais formas – referidas em outros painéis deste seminário aos<br />

“povos originários da América Lati<strong>na</strong>” – não foram dizimadas ou inteiramente desfiguradas,<br />

pois resistiram, adaptaram-se, lograram em muitos casos preservar o seu núcleo<br />

vital, mesmo diante de processos históricos brutais de violência e de expropriação.<br />

Temos aqui, em nosso continente, os explorados do Norte – as classes e grupos domi<strong>na</strong>dos,<br />

produzidos nessa condição pela civilização ocidental – e os deserdados do Sul. É<br />

preciso rever os critérios pelos quais procuramos apreender esse mundo, dado que nele<br />

se sobrepõem, como uma espécie de arqueologia viva – e não propriamente de formas<br />

sociais que se sucederam e extinguiram – camadas de civilização depositadas ao longo<br />

do tempo, camadas que agora se intercomunicam. Para abordarmos essas questões de<br />

fundo, penso que é importante ter em vista algumas premissas.<br />

A primeira estaria ilustrada através de dados que eu retirei do primeiro mapeamento<br />

de <strong>Economia</strong> Solidária no Brasil: parte dos empreendimentos, mapeados em 2007, corresponde<br />

a experiências de associativismo e cooperativismo que tivemos no Brasil no<br />

correr do século XX; organizações que conheceram, no passado, uma expansão maior,<br />

um relativo florescimento e, posteriormente, foram minguando, praticamente desaparecendo<br />

ou ficando em um estado, digamos, de hiber<strong>na</strong>ção, até que voltaram à superfície<br />

e foram novamente percebidos <strong>na</strong> atualidade com a desig<strong>na</strong>ção geral de <strong>Economia</strong><br />

Solidária. Portanto, há uma longa história, que se reflete hoje <strong>na</strong> <strong>Economia</strong> Social e So-<br />

21. Textos sobre o assunto encontram-se no website http://www.boaventuradesousasantos.pt/pages/pt/homepage.php.<br />

Ver principalmente: SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma<br />

ecologia de saberes. Novos Estudos, n. 79, p. 71-94, 2007.

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