19.04.2013 Views

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O homem <strong>de</strong> preto acor<strong>do</strong>u numa estupenda manhã ensolarada. Os raios entravam fartos pela<br />

janela <strong>do</strong> quarto on<strong>de</strong> se hospedara.<br />

O tempo bom só conseguia irritá-lo. Detestava o calor e o verão, preferia as tristonhas tar<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> inverno, com seu ar calmo e para<strong>do</strong>, seus céus <strong>de</strong> um cinza uniforme, e o frio que penetrava<br />

através da capa até insinuar-se nos ossos. O inverno era a coisa <strong>de</strong> que mais sentira falta, longe<br />

<strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Emerso. Orva era o lugar da eterna primavera, insuportável, infinita. E agora que<br />

finalmente voltara a uma terra on<strong>de</strong> havia invernos longos e rigorosos, tinha <strong>de</strong> viajar por aquelas<br />

bandas no verão.<br />

Levantou-se zanga<strong>do</strong> com o mun<strong>do</strong>. Vestiu-se <strong>de</strong>pressa e, quan<strong>do</strong> já estava a ponto <strong>de</strong> sair,<br />

reparou no reflexo avermelha<strong>do</strong> da ampola na mesinha <strong>de</strong> cabeceira. Tinha quase se esqueci<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> presente que lhe <strong>de</strong>ra o amigo, alguns dias antes.<br />

O amuo transformou-se numa ira mortal. Não queria admitir consigo mesmo que a verda<strong>de</strong>ira<br />

razão da sua fúria era aquela. Não <strong>de</strong>sejava aceitar que, apesar <strong>do</strong> tempo que se passara, a<br />

<strong>de</strong>speito das escolhas feitas e da plena consciência <strong>do</strong> que ele na verda<strong>de</strong> era, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> matar<br />

aquele homem ainda o incomodava.<br />

Agarrou a ampola com raiva e, com o mesmo ímpeto, <strong>de</strong>sceu as escadas. Jogou o que havia<br />

si<strong>do</strong> combina<strong>do</strong> na mesa <strong>do</strong> hospe<strong>de</strong>iro e foi embora sem pronunciar uma única palavra.<br />

O encontro aconteceu numa taberna, o melhor lugar para quem quer passar <strong>de</strong>spercebi<strong>do</strong> na<br />

multidão, e para o homem <strong>de</strong> preto o anonimato era tão importante quanto o próprio ar que<br />

respirava. Era a hora <strong>do</strong> almoço, e tinha ti<strong>do</strong> o cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> escolher um lugar cheio <strong>de</strong> gente, on<strong>de</strong><br />

ninguém se importasse <strong>de</strong>mais com seu rosto perenemente coberto.<br />

Passara os <strong>do</strong>is últimos dias naquela maldita cida<strong>de</strong>, à procura da mulher, Guerle, sem<br />

conseguir nada. Não tinha pistas que o pu<strong>de</strong>ssem ajudar, e até mesmo as visões haviam <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> visitá-lo.<br />

Decidira então esquecer o contratempo e <strong>de</strong>dicar-se a ele, a Marvash. Um rapaz. Cavalgan<strong>do</strong><br />

um dragão. Um dragão bastante peculiar, aliás.<br />

O sujeito chegou e parou diante <strong>de</strong>le.<br />

– Você é Mayar? – perguntou, encaran<strong>do</strong>-o.<br />

O homem <strong>de</strong> preto anuiu sem nem mesmo se virar. Mayar, o nome que escolhera para<br />

movimentar-se naquele lugar. Pelo menos até sentir-se bastante seguro para usar o verda<strong>de</strong>iro.<br />

O outro sentou-se e chamou a criada.<br />

– Uma sidra e um prato <strong>de</strong> carne – pediu.<br />

Mayar observou o recém-chega<strong>do</strong>, um homem magro, vestin<strong>do</strong> um casaco imun<strong>do</strong> e calça<br />

remendada. Achara melhor falar com alguém <strong>de</strong> baixo nível: o sujeito faria menos perguntas<br />

acerca <strong>de</strong>le e <strong>do</strong> motivo pelo qual queria aquelas informações, e seria mais fácil comprar o seu<br />

silêncio. A coisa, além <strong>do</strong> mais, também lhe permitia não chegar perto <strong>de</strong>mais <strong>do</strong> Palácio <strong>do</strong><br />

Exército, um lugar para ele bastante perigoso.<br />

Ficaram em silêncio até a chegada da sidra e da carne. Depois o homem começou a comer,<br />

esfomea<strong>do</strong>.<br />

– Está pensan<strong>do</strong> que vou pagar por isto? – perguntou Mayar.<br />

O outro mal levantou a cabeça <strong>do</strong> prato.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!