Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
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San ria, senta<strong>do</strong> à mesa com outros solda<strong>do</strong>s. Segurava uma caneca <strong>de</strong> cerveja e tinha diante <strong>de</strong><br />
si os rostos embeveci<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s recrutas. Mira foi se aproximan<strong>do</strong> <strong>de</strong>vagar, medin<strong>do</strong> o espaço que<br />
os separava e levan<strong>do</strong> algum tempo a observá-lo. Quan<strong>do</strong> o homem chegara, não tivera por ele<br />
qualquer sentimento especial. Tratava-se <strong>de</strong> um velho amigo <strong>do</strong> rei, e isso fazia com que o<br />
respeitasse, e também era alguém que havia participa<strong>do</strong> <strong>de</strong> eventos históricos extraordinários.<br />
Nada mais <strong>do</strong> que isto, no entanto. Mesmo agora, a sua figura não lhe inspirava nem simpatia nem<br />
antipatia.<br />
Mas então o seu pensamento voltou-se para Amhal, às suas palavras na noite anterior, diante<br />
<strong>do</strong> cadáver <strong>do</strong> rapazola, e àquilo que dissera mais tar<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> voltara a vê-lo na Aca<strong>de</strong>mia.<br />
“Po<strong>de</strong>ria haver outro caminho, o senhor não acha? Um caminho que não inclua esta eterna<br />
limitação, esta contenção das próprias forças. Mestre, tenho a impressão <strong>de</strong> que San, nestes<br />
últimos tempos, compreen<strong>de</strong>u muitas coisas sobre mim e a minha vida. E são coisas bonitas,<br />
coisas que me fazem sentir bem.”<br />
Mira teve <strong>de</strong> pren<strong>de</strong>r a respiração.<br />
– Per<strong>do</strong>e a interrupção – disse seco, ao chegar perto <strong>do</strong> grupo. San virou-se na mesma hora, um<br />
sorriso afável no rosto e o difuso rubor da cerveja nas faces. – Gostaria <strong>de</strong> lhe falar em<br />
particular.<br />
– É urgente?<br />
– É.<br />
– Meus senhores, o <strong>de</strong>ver me chama – disse, então, San, acenan<strong>do</strong> para a turma. – Espero que<br />
me per<strong>do</strong>em se eu só lhes contar o fim da história amanhã. – Acabou a cerveja <strong>de</strong> um só gole e<br />
levantou-se. – Ao seu dispor – acrescentou alegremente.<br />
Foram ao quarto <strong>de</strong>le, simples mas amplo, um <strong>do</strong>s melhores da Aca<strong>de</strong>mia, consi<strong>de</strong>rou Mira.<br />
San sentou-se à mesa <strong>de</strong> trabalho e apontou para uma ca<strong>de</strong>ira encostada na pare<strong>de</strong>. Cruzou as<br />
mãos no peito.<br />
– E então?<br />
– Sei que se tornou muito amigo <strong>do</strong> meu discípulo.<br />
O rosto <strong>de</strong> San manteve a mesma expressão afável.<br />
– É um ótimo rapaz. Acredito que seja o mais <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> entre to<strong>do</strong>s os aprendizes <strong>de</strong>ste ano.<br />
Forte, corajoso, e ainda po<strong>de</strong> contar com a magia...<br />
– Pois é, eu também acho. Um rapaz forte, direito e sensível. Um rapaz que ontem matou<br />
friamente um garoto não muito mais jovem que ele e que tentava entrar em Makrat.<br />
San parou <strong>de</strong> sorrir.<br />
– Uma triste história. Mas estes são tempos <strong>de</strong> tristeza.<br />
Mira ficou por alguns instantes cala<strong>do</strong>, observan<strong>do</strong> o homem diante <strong>de</strong>le.<br />
– Talvez o senhor não conheça Amhal. Talvez não saiba que ele vem lutan<strong>do</strong> há muito tempo<br />
com a sua força, que para ele é uma verda<strong>de</strong>ira maldição. Talvez o senhor <strong>de</strong>sconheça que esse<br />
furor que o <strong>do</strong>mina na luta é a sua cruz, um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> morte que tenta sufocar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que era<br />
criança. E, provavelmente, o senhor não está a par <strong>do</strong>s seus progressos, das estratégias que<br />
apren<strong>de</strong>u para reprimir sua se<strong>de</strong> <strong>de</strong> sangue ou <strong>do</strong>s castigos que se inflige quan<strong>do</strong> erra.