Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Neor foi leva<strong>do</strong> em sua ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas aos subterrâneos. Era a segunda vez que o<br />
carregavam para lá, mas se sentia tão humilha<strong>do</strong> quanto da primeira. No seu palácio nunca se<br />
consi<strong>de</strong>rara realmente um aleija<strong>do</strong>. Em Nova Enawar, no entanto, to<strong>do</strong>s os limites <strong>do</strong> seu corpo<br />
<strong>do</strong>entio ficavam patentes. Precisava <strong>de</strong> auxílio para qualquer coisa, até mesmo a mais banal.<br />
Quan<strong>do</strong> chegaram ao fim das escadas, dispensou os acompanhantes.<br />
– Quero ficar sozinho – disse, secamente.<br />
– Vossa Majesta<strong>de</strong>, este lugar é arrisca<strong>do</strong>, há criminosos, e...<br />
– Quero ficar sozinho – insistiu. Os cria<strong>do</strong>s baixaram a cabeça e obe<strong>de</strong>ceram.<br />
Neor ficou para<strong>do</strong> na entrada <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r. Meditou sobre aquele título, Vossa Majesta<strong>de</strong>,<br />
pensou no sentimento <strong>de</strong> solidão que ele incutia. Teria preferi<strong>do</strong> não ser chama<strong>do</strong> daquele jeito,<br />
gostaria que a <strong>de</strong>signação ficasse para sempre o apanágio <strong>do</strong> pai. Não imaginara que a perda <strong>do</strong><br />
genitor cavaria tão fun<strong>do</strong> em sua alma, trazen<strong>do</strong> à tona tamanha <strong>do</strong>r.<br />
Avançou até o posto <strong>de</strong> guarda daquele andar.<br />
– Estou aqui para ver o prisioneiro, acredito que já foram avisa<strong>do</strong>s.<br />
– Estamos cientes, Vossa Majesta<strong>de</strong> – respon<strong>de</strong>u um <strong>do</strong>s carcereiros, pegan<strong>do</strong> um pesa<strong>do</strong><br />
molho <strong>de</strong> chaves. Aproximou-se <strong>de</strong>pressa da traseira da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas, mas Neor o <strong>de</strong>teve.<br />
– Po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar – disse ríspi<strong>do</strong>, empurran<strong>do</strong> as rodas <strong>do</strong> assento, sozinho.<br />
– Sim... claro. Por aqui – respon<strong>de</strong>u o homem, sem jeito.<br />
Seguiram adiante entre duas fileiras <strong>de</strong> portas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira trancadas. Atrás <strong>de</strong> cada uma, um<br />
criminoso. Mas a que interessava a Neor era a última, no fun<strong>do</strong>.<br />
O guarda ro<strong>do</strong>u a chave na fechadura.<br />
– Quero ficar sozinho com ele – disse o rei.<br />
– Mas, Vossa Majesta<strong>de</strong>, não sei se...<br />
– Chega <strong>de</strong> Vossa Majesta<strong>de</strong>! – exclamou Neor, impaciente. – Este homem ficou na minha corte<br />
por mais <strong>de</strong> <strong>do</strong>is meses. Sei como lidar com ele. Deixem-nos sozinhos, então.<br />
O guarda não teve outra escolha a não ser baixar a cabeça. A porta se abriu, e Neor viu a figura<br />
ressaltar contra o fun<strong>do</strong> da cela, um cubículo <strong>de</strong> tijolos aperta<strong>do</strong> e abafa<strong>do</strong>, com um catre<br />
encosta<strong>do</strong> na pare<strong>de</strong>. Estava senta<strong>do</strong> nele, usan<strong>do</strong> a mesma roupa <strong>do</strong> dia em que pela primeira<br />
vez botara os pés no palácio, as mãos atrás das costas, presas à pare<strong>de</strong>.<br />
Neor sentiu um estremecimento correr pelo corpo.<br />
– Po<strong>de</strong> ir – disse ao guarda, <strong>de</strong>pois que entrou.<br />
– Estarei aqui fora, meu rei. Quan<strong>do</strong> Vossa Majesta<strong>de</strong> quiser sair, é só me chamar.<br />
– Suma! – Reparou num suspiro conforma<strong>do</strong> <strong>do</strong> solda<strong>do</strong>, em seguida a porta da cela se fechou.<br />
Ficaram sozinhos.<br />
Estudaram-se por alguns instantes, em silêncio. San sorria. Dava para perceber o seu esgar,<br />
entre a equimose que lhe cobria o la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>do</strong> rosto e o lábio incha<strong>do</strong>.<br />
– Não pensei que você viesse pessoalmente.<br />
– Sou o seu rei, mostre o respeito que me é <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>.<br />
San voltou a sorrir, com mal<strong>do</strong>so escárnio.