19.04.2013 Views

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Recebeu o encargo <strong>de</strong> patrulhar as muralhas. No resto da Terra <strong>do</strong> Sol a <strong>do</strong>ença se alastrava<br />

rapidamente, apesar das quarentenas e <strong>do</strong>s controles. De forma que Makrat parecia aos olhos <strong>de</strong><br />

to<strong>do</strong>s um porto seguro, o único baluarte que conseguia resistir aos ataques da peste.<br />

Toda noite, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> toque <strong>de</strong> recolher, algum <strong>de</strong>sespera<strong>do</strong> tentava entrar na cida<strong>de</strong>. Amhal<br />

podia vê-los, sombras escuras que se apinhavam aos pés das muralhas imploran<strong>do</strong> pieda<strong>de</strong> ou,<br />

então, as escalavam como insetos. E toda noite repelia aquele amontoa<strong>do</strong> <strong>de</strong> aflitos, via-os<br />

morrer numa chacina sem senti<strong>do</strong>. Certa vez mencionou o assunto com San, e este prontificou-se<br />

logo a infundir-lhe certezas:<br />

– Não há outro jeito, Amhal. Se entrassem, quantas pessoas iriam morrer aqui na cida<strong>de</strong>?<br />

Makrat inteira estaria perdida e, com ela, toda a Terra <strong>do</strong> Sol. É para um bem maior, acredite.<br />

E Amhal queria acreditar, para dar um senti<strong>do</strong> àquele trabalho que o perturbava e que só servia<br />

para atiçar a fúria que tinha no coração.<br />

Des<strong>de</strong> que Mira voltara, ele também <strong>de</strong>sempenhava a mesma tarefa. Mediam a lentas passadas<br />

o perímetro das muralhas, <strong>de</strong> olhos fixos na escuridão.<br />

Certa noite, aconteceu. Nuvens negras <strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong> <strong>de</strong>rramavam sobre a cida<strong>de</strong> uma chuva<br />

insistente. Aos seus pés, a planície que anunciava Makrat era uma enorme extensão escura e<br />

impenetrável. Ambos perscrutavam a noite, mas a chuva abafava qualquer ruí<strong>do</strong>, e as nuvens que<br />

ocultavam as estrelas tornavam-nos praticamente cegos.<br />

Talvez fosse o longínquo reflexo <strong>de</strong> algo metálico na luz gélida <strong>de</strong> um raio. Os olhos <strong>de</strong> Amhal<br />

mal chegaram a percebê-lo, mas seus músculos reagiram com rapi<strong>de</strong>z. Acenou <strong>de</strong> leve para Mira<br />

e <strong>de</strong>sembainhou a espada. Encolheu-se na sombra e, pouco a pouco, aproximou-se da origem<br />

daquele lampejo. O mestre vinha logo atrás.<br />

Um novo relâmpago iluminou um gancho, a umas poucas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> braças <strong>de</strong> distância. Amhal<br />

continuou avançan<strong>do</strong>. Então, <strong>de</strong> repente, percebeu o <strong>de</strong>slocamento <strong>do</strong> ar logo atrás <strong>de</strong> si. Virouse<br />

e mal teve tempo <strong>de</strong> ver uma sombra escura ocultan<strong>do</strong> Mira. Veio o golpe, impreciso e<br />

trêmulo, e a <strong>do</strong>r nas costas. Gritou, ro<strong>de</strong>ou a espada e viu-se diante <strong>de</strong> um menino. Um garoto<br />

seguran<strong>do</strong> alguma coisa curta, muito provavelmente um punhal.<br />

O jovenzinho precipitou-se escada abaixo, numa das torres <strong>de</strong> observação. Partiu ao seu<br />

encalço. Cada passada era uma <strong>do</strong>lorosa fisgada nas costas, mas o instinto <strong>do</strong> caça<strong>do</strong>r era mais<br />

forte nele, assim como aquelas palavras: “É para um bem maior.”<br />

Ficava repetin<strong>do</strong>-as como uma reza, e elas tinham o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> acabar com qualquer outro<br />

pensamento, só <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> viva, nele, a fúria, aquela força que, com San, apren<strong>de</strong>ra a apreciar.<br />

Viu o garoto pular os últimos <strong>de</strong>graus e escapulir para a primeira viela. Acelerou o passo, com<br />

a chuva a fustigar seu rosto, com as costas que gritavam.<br />

Caiu em cima <strong>de</strong>le com um pulo. O punhal escorregou no chão, longe. Está <strong>de</strong>sarma<strong>do</strong>, pensou,<br />

mas a sua mente esqueceu quase <strong>de</strong> imediato a informação. Porque seus <strong>de</strong><strong>do</strong>s formigavam, pois<br />

o ímpeto superava qualquer outra coisa.<br />

Sentiu o corpo torcer-se sob a sua presa até conseguir se soltar. Levantou-se na mesma hora e<br />

<strong>de</strong>u o golpe. Uma simples estocada. O rapazola caiu no chão com um lamento esganiça<strong>do</strong>,<br />

pareci<strong>do</strong> com o gani<strong>do</strong> <strong>de</strong> um animal.<br />

Mas, apesar <strong>de</strong> feri<strong>do</strong>, procurou arrastar-se pela ruela, ainda em busca da salvação, agarran<strong>do</strong>-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!