Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
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espião que <strong>de</strong>via vigiar San tenha feito uma coisa como essa.<br />
– O que está queren<strong>do</strong> insinuar? – Desta vez quem insurgiu foi Learco.<br />
– Absolutamente nada. Mas é um elemento que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> no quadro geral.<br />
O pai olhou para ele significativamente. Neor sabia o quão importante San era para ele, até que<br />
ponto a sua volta <strong>de</strong>ra um novo rumo à sua vida.<br />
– Jurou fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a este mun<strong>do</strong>, esforçou-se até a exaustão nas ruas para manter esta cida<strong>de</strong><br />
segura, <strong>de</strong>monstrou que as suas não são meras palavras.<br />
Neor recostou-se no espaldar <strong>do</strong> assento e suspirou. Às vezes a lógica fria era uma<br />
con<strong>de</strong>nação, <strong>de</strong>ixava à mostra todas as ilusões, superava o véu <strong>do</strong>s sentimentos, salientan<strong>do</strong> a<br />
gélida geometria <strong>do</strong>s fatos.<br />
– Não o estou acusan<strong>do</strong>. Só estava raciocinan<strong>do</strong> em voz alta.<br />
Olhou mais uma vez para fora, sentia-se esgota<strong>do</strong>. Sabia que o peso <strong>do</strong> que tinha aconteci<strong>do</strong> –<br />
primeiro a <strong>do</strong>ença e, agora, este assassinato – iria cair completamente sobre suas costas.<br />
Houvera um tempo em que os ombros fortes <strong>do</strong> pai tinham aguenta<strong>do</strong> o ônus <strong>do</strong> reino e protegi<strong>do</strong><br />
ele também. Mas com o passar <strong>do</strong>s anos os pais tornam-se crianças, e os filhos são força<strong>do</strong>s a<br />
crescer.<br />
– Mais alguma coisa? – disse.<br />
Learco e Dubhe nada acrescentaram e, lentamente, saíram.<br />
Neor sentiu um aperto no coração. Os pais haviam começa<strong>do</strong> sua inevitável <strong>de</strong>scida.<br />
Nos dias que se seguiram ao funeral, Amhal pareceu afundar-se num pesa<strong>de</strong>lo sem fim. Não<br />
botava os pés fora da Aca<strong>de</strong>mia e não queria ver ninguém. Esgotava-se nos treinamentos, cobriase<br />
<strong>de</strong> feridas e se recusava a cumprir o seu <strong>de</strong>ver. No começo to<strong>do</strong>s fizeram vista grossa,<br />
compreendiam a sua <strong>do</strong>r e não queriam forçá-lo. Mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algum tempo começaram a se<br />
queixarem. Tentaram falar com ele, levá-lo <strong>de</strong> volta à razão. Só receberam insultos. Certa vez<br />
atacou com a espada um or<strong>de</strong>nança que simplesmente recebera a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> chamá-lo. Um fato<br />
extremamente grave que po<strong>de</strong>ria levá-lo à prisão, mas que os superiores ignoraram porque<br />
queriam dar-lhe mais uma chance.<br />
Certa noite, apesar <strong>do</strong> toque <strong>de</strong> recolher, <strong>Adhara</strong> saiu <strong>do</strong> palácio, às escondidas. Estava<br />
preocupada, não conseguia pensar em outra coisa a não ser no rosto <strong>de</strong> Amhal, <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
qualquer emoção. Atravessou a cida<strong>de</strong>, alvoroçada, até chegar à Aca<strong>de</strong>mia.<br />
Quan<strong>do</strong> alcançou a porta <strong>do</strong> seu quarto, começou a socá-la sem parar.<br />
– Amhal, sou eu, abra!<br />
Suas mãos estavam <strong>do</strong>en<strong>do</strong>, mas insistiu com insana obstinação até que, quan<strong>do</strong> já quase<br />
per<strong>de</strong>ra a sensibilida<strong>de</strong>, ele apareceu no limiar, com a barba por fazer, o rosto magro, o casaco<br />
amarrota<strong>do</strong> e sujo.<br />
Man<strong>do</strong>u-a entrar sem dizer uma só palavra e medicou suas mãos com uma pomada.<br />
– Por que veio? – A voz era rouca, como <strong>de</strong> quem não fala há muito tempo.<br />
– Acho que posso enten<strong>de</strong>r a sua <strong>do</strong>r. Mas chega a hora em que é preciso lutar.<br />
Amhal dirigiu-lhe um sorriso amargo.<br />
– Não, você não enten<strong>de</strong>, não po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r mesmo. – Palavras duras, cortantes, que a