19.04.2013 Views

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

fino, apenas o suficiente para <strong>de</strong>ixar passar o ar. Ar limpo, que sabe a noite. Encosta o olho<br />

naquela abertura. Vislumbra, por algum tempo, uma luz pálida acima <strong>de</strong>la. Então, trevas.<br />

Observa, parada, o breu que se suaviza em azul, cada vez mais claro, até tornar-se rosa<strong>do</strong>. A luz<br />

torna-se mais intensa. Mas ninguém, ainda.<br />

Passaram-se horas ou dias? Não sabe. Continua imóvel. A luminosida<strong>de</strong> volta a diminuir <strong>de</strong><br />

intensida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> novo o mesmo rosa <strong>de</strong> muitas, <strong>de</strong> <strong>de</strong>masiadas horas passadas. E, então, páli<strong>do</strong><br />

azul, azul-escuro e preto.<br />

Toma uma <strong>de</strong>cisão. Precisa sair. Martela a pare<strong>de</strong> com os punhos, com toda a sua força.<br />

Encontra um tijolo. Empurra-o para fora. Rodan<strong>do</strong> sobre <strong>do</strong>bradiças, a pare<strong>de</strong> se abre. Cai, fica<br />

algum tempo <strong>de</strong>itada no chão.<br />

Está fraca, mas consegue se levantar e percorrer <strong>de</strong> volta o caminho que já fez. O cunículo está<br />

escuro, e à medida que avança percebe, cada vez mais forte, o penetrante cheiro <strong>de</strong> queima<strong>do</strong>.<br />

Mais uma porta <strong>de</strong> tijolos. Desta vez sabe o que fazer. Sai <strong>do</strong> buraco. Há fumaça por to<strong>do</strong>s os<br />

la<strong>do</strong>s. Sua garganta ar<strong>de</strong>, fica tossin<strong>do</strong>. No chão, escombros e cotos carboniza<strong>do</strong>s. Corpos.<br />

Discerne braços, pernas, troncos e cabeças. Irreconhecíveis. Muitos. Chandra vomita. Está com<br />

me<strong>do</strong>, um terror obscuro.<br />

Não vai voltar, pensa, e compreen<strong>de</strong> que terá <strong>de</strong> dar um jeito sozinha.<br />

Segue em frente procuran<strong>do</strong> não olhar. Deixa para trás as escadas e os escombros, o instinto<br />

lhe diz para on<strong>de</strong> ir. Na verda<strong>de</strong>, ela sabe. Conhece o caminho. Instruíram-na. Da mesma forma<br />

que lhe ensinaram tu<strong>do</strong> o mais. Enfian<strong>do</strong>, sabe-se lá como, tu<strong>do</strong> aquilo em sua cabeça.<br />

Vira num corre<strong>do</strong>r lateral. Precisa sair <strong>de</strong> lá quanto antes. Sabe que por ali chegará ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

fora. Mas levará algum tempo. E está toda <strong>do</strong>lorida.<br />

Apoia-se nos tijolos, <strong>de</strong>ixa-se escorregar ao longo das pare<strong>de</strong>s. Continua andan<strong>do</strong>, movida<br />

pelo me<strong>do</strong>. O cheiro <strong>de</strong> carne queimada, atrás <strong>de</strong>la, persegue-a, revira seu estômago, mas quanto<br />

mais se afasta, mais vai fican<strong>do</strong> suportável.<br />

Os tijolos <strong>de</strong>ixam o lugar a um cunículo <strong>de</strong> terra. O fe<strong>do</strong>r <strong>de</strong> morte quase <strong>de</strong>sapareceu.<br />

Pergunta a si mesma on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve estar o homem que prometera voltar. O que fazer, agora? O que<br />

haverá lá fora? Existirá um lugar para ela?<br />

Só sabe o que lhe ensinaram. Sabe como lutar, conhece a magia, sabe o que é uma Consagrada.<br />

Mas o que espera por ela lá fora? Há algo mais além <strong>do</strong> lugar escuro <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vem?<br />

Chora. De cansaço e <strong>de</strong> me<strong>do</strong>. A mente começa a ficar confusa. Não sabe on<strong>de</strong> está. Não se<br />

lembra, exatamente, <strong>do</strong> que aconteceu.<br />

Preciso manter-me lúcida, se quiser salvar-me, diz para si mesma, mas não consegue impedir<br />

que a consciência se esvaia como água pelo ralo. Muito em breve só po<strong>de</strong>rá contar com o <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> seguir em frente. É a única certeza que tem, tu<strong>do</strong> o que ainda lhe resta. Não se lembra <strong>do</strong> rosto<br />

<strong>do</strong> homem, não recorda que alguém lhe disse que precisava esperar, que alguém iria buscá-la.<br />

Não lembra coisa alguma <strong>de</strong> si. Só sabe que precisa continuar em frente.<br />

Finalmente, o exterior. Um círculo branco, imenso, acima da sua cabeça. Uma janela aberta na<br />

negritu<strong>de</strong> <strong>do</strong> céu. Ao re<strong>do</strong>r, uma multidão <strong>de</strong> luzes trêmulas. Está exausta, abalada, com to<strong>do</strong> o<br />

corpo <strong>do</strong>lori<strong>do</strong>. Só consegue dar mais alguns passos. Depois <strong>de</strong>ixa-se cair no chão.<br />

Está num grama<strong>do</strong>, um amplo grama<strong>do</strong> molha<strong>do</strong> <strong>de</strong> orvalho, on<strong>de</strong> sopra uma <strong>de</strong>licada brisa

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!