Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
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ministro.<br />
Os <strong>de</strong>mais tiveram tempo para ensaiar uma reação. Quem estava arma<strong>do</strong> <strong>de</strong>sembainhou a<br />
espada e começou a lutar, alguns fugiram, tentan<strong>do</strong> salvar o que ainda podia.<br />
O homem <strong>de</strong> preto parecia irrefreável. Afinal <strong>de</strong> contas, os inimigos não estavam à sua<br />
altura. Durante os longos anos das suas andanças tivera a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar<br />
adversários muito mais tarimba<strong>do</strong>s, e as cicatrizes no seu corpo testemunhavam cada uma<br />
daquelas batalhas.<br />
É nisto que dá a moleza <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong> que se acostumou com a paz, pensou com <strong>de</strong>sprezo.<br />
Passos abafa<strong>do</strong>s atrás <strong>de</strong>le. Nem precisou olhar. Recitou as palavras, baixinho, e ficou<br />
envolvi<strong>do</strong> numa esfera <strong>de</strong> prata. Os punhais levanta<strong>do</strong>s contra ele ricochetearam na superfície<br />
elástica da barreira.<br />
– Um mágico... – murmurou alguém com horror.<br />
O homem <strong>de</strong> preto sorriu com malda<strong>de</strong>.<br />
Adrass trancou a porta com o ferrolho. A sua respiração parecia não encontrar o caminho<br />
que, <strong>do</strong>s pulmões, levava para fora.<br />
Colou o corpo na ma<strong>de</strong>ira, encostan<strong>do</strong> o ouvi<strong>do</strong>. Estri<strong>do</strong>r <strong>de</strong> lâminas, gritos, baques <strong>de</strong><br />
corpos que tombavam no chão.<br />
O que estava acontecen<strong>do</strong>? Haviam si<strong>do</strong> <strong>de</strong>scobertos?<br />
Começou a tremer. Lutou para não se <strong>de</strong>ixar tomar pelo pânico. Não. Não. O que lhe haviam<br />
ensina<strong>do</strong> não era nada daquilo. Des<strong>de</strong> a primeira aula, quan<strong>do</strong> pusera os pés lá <strong>de</strong>ntro.<br />
“Se, porventura, algum dia formos <strong>de</strong>scobertos, só pensem em salvar o nosso trabalho. É a<br />
única coisa que realmente importa aqui. Estamos cuidan<strong>do</strong> <strong>de</strong> algo maior, <strong>de</strong> um fim superior,<br />
não se esqueçam disto.”<br />
Palavras <strong>do</strong> Vi<strong>de</strong>nte. Adrass engoliu em seco. Salvar o nosso trabalho.<br />
Afastou-se resolutamente da porta e dirigiu-se com firmeza às estantes presas a uma<br />
pequena pare<strong>de</strong> <strong>do</strong> cubículo on<strong>de</strong> se encontrava. Procurou entre os velhos pergaminhos, entre<br />
as minuciosas anotações escritas com sua grafia miúda e elegante. Guar<strong>do</strong>u numa bolsa <strong>de</strong><br />
couro alguns <strong>do</strong>cumentos, rasgou outros. Revistou potes e filtros, remexeu ampolas e ervas.<br />
Anos <strong>de</strong> trabalho. Como escolher o que <strong>de</strong>veria ser salvo <strong>de</strong> uma vida inteira <strong>de</strong> labuta,<br />
apenas em poucos momentos apressa<strong>do</strong>s?<br />
Um vago gani<strong>do</strong> chamou a sua atenção para a mesa no meio <strong>do</strong> aposento.<br />
Adrass recuperou a calma. Ali estava o que ele tinha <strong>de</strong> salvar: a criatura. Era a única coisa<br />
que valia a pena levar para fora. Era algo muito mais importante <strong>do</strong> que sua vida <strong>de</strong>sprezível,<br />
<strong>do</strong> que os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>les to<strong>do</strong>s. Era tu<strong>do</strong>.<br />
Gritos <strong>de</strong> moças <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> da porta.<br />
Não! Estão matan<strong>do</strong> até elas!<br />
Chegou perto da mesa, <strong>de</strong>satou as tiras <strong>de</strong> couro que prendiam a criatura, libertou-a.<br />
Segurou-a ru<strong>de</strong>mente pelos ombros forçan<strong>do</strong>-a a se levantar.<br />
– Vamos lá, acor<strong>de</strong>, acor<strong>de</strong> logo! – disse, dan<strong>do</strong>-lhe uns tapas nas faces. Mas ela<br />
permanecia inerte em seus braços, <strong>de</strong> olhos entreabertos que pareciam não vê-lo.