Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
isso que reparei logo em você. – Levou à boca mais um pedacinho <strong>de</strong> pão. – Fique à vonta<strong>de</strong>,<br />
coma alguma coisa.<br />
<strong>Adhara</strong> apertou lentamente as mãos em torno da tigela e tomou um gole. Doce, agradavelmente<br />
quente, saboroso. Estava ótimo.<br />
– Falei <strong>de</strong> você com Mira, ontem à noite, antes que fosse ao quartel, e ele me explicou a<br />
situação.<br />
<strong>Adhara</strong> limpou a boca com o <strong>do</strong>rso da mão e, <strong>de</strong>pois, pegou timidamente um pedaço <strong>de</strong> pão.<br />
– Contou-me a sua história e disse que procura um trabalho, enquanto investiga o seu passa<strong>do</strong>.<br />
Ela continuou a observá-lo. Tinha olhos bonitos, <strong>de</strong> um ver<strong>de</strong> bastante escuro, a perfeita fusão<br />
entre os da mãe e os <strong>do</strong> pai. Mas, passan<strong>do</strong> por cima <strong>do</strong> seu corpo frágil, notavam-se nele muitas<br />
coisas que, com uma olhada rápida – a olhada <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s aqueles que não se atreviam a<br />
<strong>de</strong>morarem-se sobre a sua figura –, provavelmente passariam <strong>de</strong>spercebidas. As longas pestanas,<br />
os olhos gran<strong>de</strong>s, a boca sempre marcada por um meio sorriso.<br />
– Sinto-me profundamente interessa<strong>do</strong> nas pessoas que não têm qualquer condicionamento<br />
força<strong>do</strong> pela socieda<strong>de</strong>. Elas são diferentes, fora <strong>do</strong>s padrões, como eu – prosseguiu Neor num<br />
tom reconfortante.<br />
<strong>Adhara</strong> pegou a faca e cortou um pedaço <strong>de</strong> queijo. Levou-o à boca e mastigou com gosto.<br />
– De forma que achei por bem confiar-lhe, eu mesmo, um trabalho que consi<strong>de</strong>ro apropria<strong>do</strong><br />
para uma jovem como você.<br />
O coração <strong>de</strong> <strong>Adhara</strong> pareceu parar, e ela engoliu rui<strong>do</strong>samente o queijo.<br />
– Obrigada... – conseguiu murmurar, esperan<strong>do</strong> ter dito a coisa certa.<br />
– Acredito que tenha repara<strong>do</strong> em Amina, a minha filha.<br />
A menina “impetuosa”, como havia si<strong>do</strong> chamada pela mãe. <strong>Adhara</strong> anuiu.<br />
– Fique saben<strong>do</strong> que ela também está fora <strong>do</strong>s padrões. Talvez tenha puxa<strong>do</strong> <strong>de</strong>mais a avó,<br />
talvez a <strong>de</strong>la seja uma reação ao meu caráter pacato, à minha forçada imobilida<strong>de</strong>, só sei que não<br />
consegue adaptar-se às regras da corte. Quase parece uma estranha numa terra <strong>de</strong>sconhecida. E<br />
uma vez que acha que ninguém a compreen<strong>de</strong>, acaba rebelan<strong>do</strong>-se das piores formas.<br />
<strong>Adhara</strong> ficou se perguntan<strong>do</strong> o que aquilo tinha a ver com ela.<br />
– É uma pessoa sozinha, <strong>Adhara</strong>, e não é bom ser uma pessoa sozinha aos <strong>do</strong>ze anos. A mãe...<br />
bem, a mãe <strong>de</strong>la é uma mulher maravilhosa, mas fica presa <strong>de</strong>mais à etiqueta... E eu an<strong>do</strong> sempre<br />
muito atarefa<strong>do</strong>. Nem em mim nem em Fea ela encontra aquilo que procura e <strong>de</strong> que precisa.<br />
<strong>Adhara</strong> serviu-se <strong>de</strong> mais um pedaço <strong>de</strong> queijo.<br />
– Mas talvez encontre em você.<br />
O boca<strong>do</strong> ficou entala<strong>do</strong> na garganta da jovem.<br />
– Meu senhor – não sabia se essa era a fórmula certa –, eu nada sei <strong>de</strong> cortes; para dizer a<br />
verda<strong>de</strong>, aliás, nada sei <strong>de</strong> coisa alguma, e não vejo como...<br />
– Você não é muito mais velha <strong>do</strong> que ela. Nada sabe <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, como acaba <strong>de</strong> afirmar, não<br />
faz parte <strong>de</strong>ste lugar. É como ela.<br />
– Mas, meu senhor...