19.04.2013 Views

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

e<strong>do</strong>ndas. Uma testa ampla, em volta da qual os cabelos se abriam como as cortinas <strong>de</strong> um teatro.<br />

Uma boca pequena e bem <strong>de</strong>senhada, lábios rosa<strong>do</strong>s e lisos que sobressaíam na tez pálida. Um<br />

nariz <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong>, sobrancelhas finas. Como receava, era o rosto <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>sconhecida. Franziu a<br />

testa e uma sombra anuviou seus olhos, que logo se tornaram úmi<strong>do</strong>s.<br />

É assim que o me<strong>do</strong> aparece no meu rosto, disse para si mesma.<br />

A coisa que mais a impressionou, no entanto, foram os olhos. Gran<strong>de</strong>s, mas <strong>de</strong> feitio alonga<strong>do</strong>,<br />

um era extremamente negro, enquanto o outro era <strong>de</strong> um violeta vivo, límpi<strong>do</strong>, quase perturba<strong>do</strong>r.<br />

Não eram muitas as pessoas com olhos <strong>de</strong> cores diferentes: por alguma razão, ela tinha certeza<br />

disto. A testa da imagem refletida alisou as rugas. Era uma boa notícia. Não seria difícil<br />

reconhecê-la com aquela característica.<br />

Ficou <strong>de</strong> pé, fingin<strong>do</strong> uma <strong>de</strong>terminação que na verda<strong>de</strong> não tinha.<br />

Preciso sair daqui.<br />

Mais uma or<strong>de</strong>m da qual não compreendia o senti<strong>do</strong>, mas em cuja peremptorieda<strong>de</strong> confiava<br />

cegamente. Não reconhecia o próprio corpo, mas respeitava a sua autorida<strong>de</strong>; quan<strong>do</strong> ficara com<br />

se<strong>de</strong>, coubera a ele sugerir o que fazer. Percebia que <strong>de</strong>via aproveitar as insensatas certezas que<br />

vez por outra lhe passavam pela cabeça. Era por causa <strong>de</strong>las que, até agora, ela se mantivera<br />

viva.<br />

Seguiu adiante, acompanhan<strong>do</strong> o regato, pois certamente iria ficar com se<strong>de</strong> <strong>de</strong> novo, e não<br />

fazia i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> como levar a água consigo. Além <strong>do</strong> mais acreditava que, se quisesse encontrar<br />

alguém, alguém que soubesse quem era ou que simplesmente pu<strong>de</strong>sse ajudá-la, <strong>de</strong>via seguir a<br />

correnteza.<br />

O sol <strong>de</strong>screveu o seu arco no céu, invisível atrás das copas das árvores. A luz ambreada<br />

tornou-se rosada, assumin<strong>do</strong> tons <strong>de</strong> um azul esmaeci<strong>do</strong>. Por alguns momentos, no entanto, ficou<br />

roxa, e em seguida, com seu cortejo <strong>de</strong> trevas, a noite chegou.<br />

A jovem não fazia i<strong>de</strong>ia <strong>do</strong> caminho percorri<strong>do</strong>. Só sabia que estava escuro e que não<br />

conseguia ficar <strong>de</strong> olhos abertos. Precisava <strong>de</strong>scansar.<br />

Subiu numa árvore. Por algum motivo, achou que era o que <strong>de</strong>via fazer. Ajeitou-se a cavalo em<br />

um galho e recostou-se no tronco. Seus músculos <strong>do</strong>íam, mas a <strong>do</strong>r já não era a mesma <strong>de</strong> quan<strong>do</strong><br />

havia acorda<strong>do</strong>. Agora estava simplesmente cansada.<br />

Levantou os olhos para o céu. As árvores permitiam-lhe divisar um quadra<strong>do</strong> <strong>de</strong> céu negro<br />

como piche, pontilha<strong>do</strong> da trêmula brancura <strong>de</strong> dúzias <strong>de</strong> pequenas luzes. O ar tinha um cheiro<br />

gostoso, <strong>de</strong> úmi<strong>do</strong> e <strong>de</strong> frescor, e por um momento sentiu-se quase confortada. À sua volta, os<br />

ruí<strong>do</strong>s <strong>do</strong> dia haviam <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> o lugar a novos sons: um uivo longínquo e insistente, o passo<br />

furtivo <strong>de</strong> algum animal na mata, o <strong>do</strong>ce assobio <strong>de</strong> algum inseto <strong>do</strong> qual não conseguia lembrar o<br />

nome. Não estava com me<strong>do</strong>. A vitalida<strong>de</strong> comedida e circunspecta <strong>do</strong> bosque noturno não a<br />

assustava: longe disso, o problema era o vazio absoluto da sua mente, o nada pelo qual parecia<br />

ter si<strong>do</strong> gerada. Viu a lua, cândida e enorme, aparecen<strong>do</strong> atrás da cortina das árvores, e sentiu o<br />

coração encher-se <strong>de</strong> uma paz fugidia, <strong>de</strong> uma precária serenida<strong>de</strong>. Uma ave bastante gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

aspecto atarraca<strong>do</strong> e bico pequeno e pontu<strong>do</strong>, riscou rápi<strong>do</strong> o espaço entre ela e a lua. Ouviu-a<br />

soltar um chama<strong>do</strong> grave e repeti<strong>do</strong>. Acompanhou o seu voo até on<strong>de</strong> pô<strong>de</strong>. A<strong>do</strong>rmeceu tentan<strong>do</strong><br />

lembrar o nome.<br />

Os dias seguintes foram <strong>de</strong> marcha contínua. O tempo era marca<strong>do</strong> pelo sol, que surgia e se

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!