19.04.2013 Views

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

aliena<strong>do</strong>ra sensação <strong>de</strong> estar diante <strong>do</strong> corpo <strong>de</strong> Amina possuí<strong>do</strong> por uma alma diferente. Estava<br />

a ponto <strong>de</strong> ir embora.<br />

– A biblioteca é bastante gran<strong>de</strong> para nós <strong>do</strong>is – disse o garoto sem levantar os olhos <strong>do</strong> livro.<br />

A voz também era <strong>de</strong> adulto.<br />

– Não queria incomodar...<br />

Kalth finalmente levantou a cabeça e sorriu. Havia muito <strong>do</strong> pai nele. A mesma calma<br />

tranquiliza<strong>do</strong>ra, o mesmo fogo discreto nos olhos.<br />

– Acho que, afinal, também veio aqui para ler, não é verda<strong>de</strong>? E me chame <strong>de</strong> você, é mais<br />

velha <strong>do</strong> que eu.<br />

Moveu <strong>de</strong> leve a ca<strong>de</strong>ira, quase a abrir-lhe espaço. <strong>Adhara</strong> entrou in<strong>de</strong>cisa.<br />

Tentou agir como das outras vezes. Pegou o livro que <strong>de</strong>ixara no meio e começou<br />

diligentemente a ler. Mas a presença <strong>de</strong> Kalth ao seu la<strong>do</strong>, imóvel como uma estátua <strong>de</strong> cera, <strong>de</strong><br />

alguma forma <strong>de</strong>ixava-a constrangida. De vez em quan<strong>do</strong> o jovem príncipe virava a página, fazia<br />

anotações num pergaminho com uma caneta longa e elegante.<br />

Ela ficava olhan<strong>do</strong> <strong>de</strong> soslaio e comparava a sua calma comedida com a fúria que parecia<br />

agitar continuamente a irmã.<br />

– Foi ela? – perguntou Kalth <strong>de</strong> repente.<br />

<strong>Adhara</strong> não enten<strong>de</strong>u na hora. Então viu o menino apontar para alguma coisa no seu braço. Era<br />

uma marca roxa bastante vistosa, uma das primeiras “feridas <strong>de</strong> guerra”: acontecera enquanto<br />

brincavam com as espadas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, um golpe irrita<strong>do</strong> da princesa.<br />

– Foi um aci<strong>de</strong>nte – respon<strong>de</strong>u.<br />

Kalth <strong>de</strong>u uma risadinha.<br />

– Quan<strong>do</strong> éramos crianças, muitas vezes brincávamos juntos. Mas eu nunca gostei das suas<br />

brinca<strong>de</strong>iras violentas. Uma vez jogou em cima <strong>de</strong> mim água ferven<strong>do</strong>... – Arregaçou uma manga<br />

e mostrou uma ampla mancha clara no antebraço. – Foi <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira... mas a partir daí não<br />

brincamos mais.<br />

Seguiu-se um longo silêncio, que <strong>Adhara</strong> não foi capaz <strong>de</strong> preencher.<br />

– Você, porém, não se renda – disse Kalth, e havia uma ponta <strong>de</strong> <strong>do</strong>r nos seus olhos. – Ela<br />

precisa <strong>de</strong> você. – Fechou o livro e sorriu. – Estou cansa<strong>do</strong> – anunciou com um suspiro. – Boanoite!<br />

– E, silencioso, dirigiu-se à porta.<br />

Depois daquela noite, <strong>Adhara</strong> voltou a encontrá-lo mais algumas vezes. Trocavam poucas<br />

palavras, mas por algum motivo ela ficava feliz ao vê-lo ali, absorto em seus estu<strong>do</strong>s solitários.<br />

A sua figura lhe inspirava uma gran<strong>de</strong> calma, fazia-lhe bem <strong>de</strong>pois <strong>do</strong>s dias frenéticos com<br />

Amina.<br />

E enquanto isso a sua pesquisa progredia. Retomara-a exatamente on<strong>de</strong> a tinha interrompi<strong>do</strong>,<br />

quan<strong>do</strong> soubera <strong>do</strong>s misteriosos Vigias. Havia procura<strong>do</strong> por toda parte, remoen<strong>do</strong> livros e mais<br />

livros, e apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao mesmo tempo muitas coisas novas a respeito <strong>do</strong> lugar on<strong>de</strong> agora<br />

morava. Mas sem sucesso. Às vezes, à noite, acabava a<strong>do</strong>rmecen<strong>do</strong> sobre aqueles volumes, pois<br />

a tar<strong>de</strong> era inteiramente <strong>de</strong>dicada às brinca<strong>de</strong>iras. Sempre <strong>de</strong>senfreadas, perigosas, absurdas.<br />

Amina a<strong>do</strong>rava <strong>do</strong>minar a sua dama <strong>de</strong> companhia impon<strong>do</strong>-lhe to<strong>do</strong> o peso da sua autorida<strong>de</strong>.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!