Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
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– Estamos sozinhos. Não creio que precisemos <strong>de</strong> muitas formalida<strong>de</strong>s.<br />
– Cabe a mim <strong>de</strong>cidir.<br />
– Do contrário? – provocou-o San. – Olhe para si mesmo – disse, mexen<strong>do</strong> <strong>de</strong> leve as mãos<br />
para indicá-lo. – Mesmo ata<strong>do</strong>, sou mais forte que você.<br />
– Pois é... Mas você só tem o seu corpo. Eu tenho solda<strong>do</strong>s, guardas... carrascos.<br />
– Acha mesmo que só tenho a minha força?<br />
Neor examinou rapidamente o corpo <strong>do</strong> outro com o olhar. Era o exato contrário <strong>de</strong>le.<br />
Vigoroso, saudável, um guerreiro. O filho perfeito para o seu pai, o rei que a Terra <strong>do</strong> Sol<br />
merecia. Será que Learco já tinha pensa<strong>do</strong> em San nestes termos, <strong>de</strong>sejan<strong>do</strong> um filho como ele?<br />
Se naquele dia não tivesse <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong> sair para salvar a minha mãe, se tivesse manti<strong>do</strong> a<br />
promessa feita a I<strong>do</strong>, talvez agora ele estivesse senta<strong>do</strong> no trono.<br />
Sacudiu a cabeça com raiva. Não podia entregar-se a pensamentos como estes.<br />
– Por que insiste em não dizer a verda<strong>de</strong>?<br />
San sorriu <strong>de</strong> novo.<br />
– Quem lhe disse que estou mentin<strong>do</strong>?<br />
– O instinto.<br />
– O instinto não tem valor algum. Achei que você também pensasse <strong>de</strong>ste jeito. Não era você<br />
quem colocava a lógica acima <strong>de</strong> qualquer coisa, quem regia como uma sombra o reino <strong>do</strong> pai<br />
basean<strong>do</strong>-se exclusivamente na força <strong>do</strong> raciocínio?<br />
– Existem outras coisas além da razão.<br />
– Po<strong>de</strong> ser, mas não tem provas contra mim. Só vagos indícios. E a partir <strong>de</strong>ssas suas<br />
conjeturas, trancou-me aqui embaixo como um criminoso e man<strong>do</strong>u torturar-me.<br />
Uma pausa <strong>de</strong> silêncio, oprimente.<br />
– Até que achei interessante essa sua mudança repentina. Pensei que seu pai lhe tivesse<br />
ensina<strong>do</strong> a honestida<strong>de</strong>, a retidão. Achei que você preferisse um criminoso solto a um inocente<br />
preso. Bastaram <strong>do</strong>is dias <strong>de</strong> silêncio, <strong>de</strong> minha parte, para que toda a hipocrisia da sua lei, das<br />
suas convicções, <strong>de</strong>smoronasse como um castelo <strong>de</strong> areia. Como se justifica, à noite, quan<strong>do</strong> vai<br />
<strong>do</strong>rmir? Quan<strong>do</strong> pensa nos seus bons súditos, e em seu pai, que regeu por cinquenta anos este<br />
reino sem nunca cometer injustiças, sem nunca se entregar aos seus mais baixos instintos?<br />
Também pensa em mim, nessas horas?<br />
Os <strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Neor rangeram.<br />
– Não se justifica. E tampouco está interessa<strong>do</strong> em encontrar justificativas, não é isto?<br />
– Quero a verda<strong>de</strong> – sibilou novamente o soberano.<br />
San encostou-se na pare<strong>de</strong>. Mantinha uma atitu<strong>de</strong> escarnece<strong>do</strong>ra que Neor <strong>de</strong>testava.<br />
– Não, a verda<strong>de</strong> é que você quer vingar-se, ou estou erra<strong>do</strong>? Sente que está certo, está<br />
convenci<strong>do</strong> disto, mas a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar a minha culpa rasga suas entranhas e o<br />
<strong>de</strong>ixa louco. Quer que eu pague <strong>de</strong> qualquer maneira, não é isto?<br />
Neor lastimou como nunca não ter a força <strong>de</strong> se levantar daquela ca<strong>de</strong>ira, para agarrá-lo pelo<br />
pescoço e puni-lo com as próprias mãos, enfian<strong>do</strong>-lhe goela abaixo aquelas palavras venenosas.