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Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

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segurança que na verda<strong>de</strong> não tinha, mas que gostaria imensamente <strong>de</strong> ter.<br />

O rapaz sorriu, levantan<strong>do</strong> a mochila.<br />

– Até amanhã, então. – Ficaram abobalha<strong>do</strong>s, um diante <strong>do</strong> outro, sem que nenhum <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />

tivesse a coragem <strong>de</strong> quebrar o equilíbrio que se criara. Depois, <strong>de</strong> surpresa, ele se curvou<br />

rápi<strong>do</strong> e estampou um beijo na face <strong>de</strong>la. <strong>Adhara</strong> mal teve tempo <strong>de</strong> sentir a maciez <strong>do</strong>s seus<br />

lábios na pele, pois ele já se afastara.<br />

– Boa-noite – murmurou, e saiu.<br />

<strong>Adhara</strong> continuou imóvel no meio <strong>do</strong> quarto.<br />

A escuridão <strong>de</strong>scera rápi<strong>do</strong> na Terra da Água. Ou talvez fosse só a impressão pessoal <strong>de</strong> Jyrio,<br />

Irmão <strong>do</strong> Raio, em missão especial naquele território a man<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ministro Oficiante. Ficara<br />

andan<strong>do</strong> por lugares terríveis, naqueles últimos dias, entre o fe<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s mortos e os estertores <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>entes. O céu límpi<strong>do</strong> e azul acima da sua cabeça, e a ver<strong>de</strong>jante floresta ao seu re<strong>do</strong>r criavam<br />

um gritante contraste com o espetáculo <strong>de</strong> morte ao qual era força<strong>do</strong> a assistir diariamente.<br />

Estava com me<strong>do</strong>. Um me<strong>do</strong> incontrolável que lhe apertava as entranhas e tirava o sossego das<br />

suas noites insones. Me<strong>do</strong> <strong>de</strong> ficar <strong>do</strong>ente quan<strong>do</strong>, com as mãos protegidas por frágeis<br />

encantamentos, revirava os corpos chaga<strong>do</strong>s. Mas aquela era a tarefa para a qual fora<br />

encarrega<strong>do</strong>, e tinha <strong>de</strong> obe<strong>de</strong>cer. Ao entrar na Confraria, já sabia que iria ser assim: antes <strong>de</strong><br />

qualquer outra coisa, os <strong>do</strong>entes, antes mesmo que a própria vida. E chegara a hora <strong>de</strong> cumprir<br />

com a palavra, <strong>de</strong> ser fiel ao compromisso que assumira <strong>do</strong>is anos antes.<br />

Diante <strong>de</strong>le havia uma mulher em trajes <strong>de</strong> couro, <strong>de</strong> combate. Armada da cabeça aos pés,<br />

estava levan<strong>do</strong>-o para um subterrâneo, afasta<strong>do</strong>. Não sabia exatamente quem ela era nem o que<br />

estava fazen<strong>do</strong> por aquelas bandas, mas a carta que mostrara logo que se encontraram havia si<strong>do</strong><br />

suficiente: tinha a assinatura e o selo da rainha.<br />

– Estou numa missão por conta da coroa, e acho que tenho alguma coisa interessante para você<br />

ver – dissera. E Jyrio fora com ela.<br />

O fe<strong>do</strong>r <strong>de</strong> morte tornou-se mais intenso. Seu estômago protestou violentamente, um suor frio<br />

ume<strong>de</strong>ceu-lhe a fronte. Fez uma inútil tentativa <strong>de</strong> proteger-se levan<strong>do</strong> a mão à boca e ao nariz.<br />

– Aguente, já estamos chegan<strong>do</strong>.<br />

Era uma caverna, com alguns ru<strong>de</strong>s cubículos cava<strong>do</strong>s na rocha. Um era ocupa<strong>do</strong> por um<br />

corpo.<br />

– Encontrei-o moribun<strong>do</strong> num bosque aqui perto. Procurei levá-lo a um sacer<strong>do</strong>te, mas morreu<br />

antes.<br />

Jyrio aproximou-se <strong>de</strong>vagar. O cheiro era insuportável.<br />

– Quan<strong>do</strong> aconteceu?<br />

– Ontem <strong>de</strong> manhã. Levei algum tempo para encontrar você – explicou ela. Em seguida <strong>de</strong>u-lhe<br />

um lenço. – Não vai adiantar muito, mas <strong>de</strong>veria ajudar.<br />

Jyrio cobriu a boca e o nariz.<br />

Examinou o cadáver. Era jovem e havia algo estranho nas suas proporções. Era alto, magro,<br />

pernas e braços insolitamente compri<strong>do</strong>s. O corpo estava cheio <strong>de</strong> manchas negras, e havia<br />

sangue perto da boca, <strong>do</strong> nariz, <strong>do</strong>s ouvi<strong>do</strong>s e até embaixo das unhas.

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