19.04.2013 Views

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O homem apoia<strong>do</strong> na pare<strong>de</strong> parecia estar passan<strong>do</strong> mal. Quase não conseguia respirar, sua<br />

testa estava coberta por um véu <strong>de</strong> suor. As gotas escorriam ao longo das suas faces, levan<strong>do</strong><br />

consigo a substância pegajosa e compacta que lhe encobria o rosto. Sua tez rosada mostrava,<br />

portanto, as marcas <strong>de</strong> longas linhas pálidas, <strong>de</strong>ntre as quais se entreviam impressionantes<br />

manchas negras. O outro, diante <strong>de</strong>le, parecia estar melhor e mantinha as mãos nos ombros <strong>do</strong><br />

companheiro. Murmurava frases que <strong>de</strong>viam ser <strong>de</strong> consolo. A jovem só pô<strong>de</strong> discernir umas<br />

poucas palavras:<br />

– Fique firme... A missão... vamos conseguir.<br />

O companheiro conseguiu respon<strong>de</strong>r, com dificulda<strong>de</strong>:<br />

– Acha mesmo? Ninguém... muito mal...<br />

O outro man<strong>do</strong>u que segurasse o archote e enxugou-lhe a cara com um pano branco. Deixou à<br />

mostra um rosto páli<strong>do</strong> e cansa<strong>do</strong>, quase completamente encoberto por assusta<strong>do</strong>ras manchas<br />

negras. Em seguida pegou na sacola um vidrinho <strong>do</strong> qual tirou uma substância rosada. Espalmoua<br />

até <strong>de</strong>volver às faces <strong>do</strong> amigo uma cor aparentemente normal. Continuava falan<strong>do</strong>, mas cada<br />

vez mais baixinho. A jovem já não conseguia ouvir, e seu coração batia <strong>de</strong>scontrola<strong>do</strong>. Não<br />

entendia o senti<strong>do</strong> daquilo que estava ven<strong>do</strong>, mas achava-o assusta<strong>do</strong>r. Havia alguma coisa<br />

terrível naquilo tu<strong>do</strong>, na cor obscena das manchas que cobriam o rosto <strong>do</strong> homem, algo assim<br />

como um obscuro presságio.<br />

O sujeito tirou, então, <strong>do</strong> bolso uma ampola cheia <strong>de</strong> um líqui<strong>do</strong> ambrea<strong>do</strong> e <strong>de</strong>rramou-o entre<br />

os lábios <strong>do</strong> companheiro.<br />

Ele tentou recusar, viran<strong>do</strong> a cabeça para o la<strong>do</strong>.<br />

– Não... mal...<br />

O homem insistiu, até que conseguiu fazê-lo beber.<br />

Quan<strong>do</strong> acabou, olhou em volta. A jovem espremeu-se ainda mais contra a pare<strong>de</strong>. Se<br />

<strong>de</strong>cidissem entrar, iriam <strong>de</strong>scobri-la, e então não fazia i<strong>de</strong>ia <strong>do</strong> que po<strong>de</strong>ria acontecer.<br />

Apavorada, segurou o punhal, mas o chia<strong>do</strong> da lâmina que saía da bainha acabou chaman<strong>do</strong> a<br />

atenção <strong>de</strong>les. O archote iluminou repentinamente o aposento, e eles entraram.<br />

O tempo pareceu parar. Os homens imóveis na soleira – um apoia<strong>do</strong> nos ombros <strong>do</strong> outro, que<br />

segurava a trêmula tocha –, e ela, <strong>de</strong> punhal levanta<strong>do</strong> na mão inerte, completamente vazia <strong>de</strong><br />

qualquer pensamento. Aí o encanto quebrou. A jovem atacou com a arma, mas o homem<br />

surpreen<strong>de</strong>u-a agarran<strong>do</strong> seu pulso e torcen<strong>do</strong>-o. O punhal caiu ao chão tilintan<strong>do</strong>.<br />

Idiota! Idiota! Idiota! Tinha <strong>de</strong> ser mais rápida!, gritou a sua voz interior.<br />

O sujeito <strong>de</strong>teve-a seguran<strong>do</strong>-a pelo pescoço e jogan<strong>do</strong>-a novamente contra a pare<strong>de</strong>. Com um<br />

só movimento contínuo, encostou a ponta da espada na sua garganta. A jovem engoliu em seco,<br />

enquanto o gume da lâmina espetava géli<strong>do</strong> sua traqueia.<br />

– Quem é você?<br />

Falava com um sotaque estranho, e as palavras só saíam da sua garganta com dificulda<strong>de</strong>. A<br />

jovem fitou-o, apavorada.<br />

– Você já era, está saben<strong>do</strong>? – disse com malda<strong>de</strong>.<br />

Ela sentiu alguma coisa <strong>de</strong>spertar nos braços e nas pernas. Uma longínqua lembrança, a sombra

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!