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Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

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O rapaz olhou em volta, hesitan<strong>do</strong>, mas virou-se e se dirigiu sem <strong>de</strong>mora para a construção.<br />

Ela não teve outro jeito a não ser acompanhá-lo, a mão seguran<strong>do</strong> cada vez com mais ansieda<strong>de</strong> o<br />

cabo <strong>do</strong> punhal.<br />

Lá <strong>de</strong>ntro estava escuro, e um cheiro a<strong>do</strong>cica<strong>do</strong> e enjoativo pairava no ar. Ambos levaram a<br />

mão à boca, e <strong>Adhara</strong> mal conseguiu conter o vômito. Amhal tirou da mochila fuzil e pe<strong>de</strong>rneira,<br />

e acen<strong>de</strong>u o que sobrava <strong>de</strong> uma tocha presa à pare<strong>de</strong>. A imagem que surgiu diante <strong>de</strong>les foi um<br />

verda<strong>de</strong>iro pesa<strong>de</strong>lo. Os bancos que, com suas fileiras, <strong>de</strong>viam ter enchi<strong>do</strong> o aposento estavam<br />

to<strong>do</strong>s amontoa<strong>do</strong>s num canto, e havia alguns corpos caí<strong>do</strong>s no chão, pelo menos cinco ou seis,<br />

to<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s em brancos sudários mancha<strong>do</strong>s <strong>de</strong> sangue e jaziam imóveis, como pilhas <strong>de</strong><br />

trapos. A lamúria preenchia to<strong>do</strong> o espaço, como se ressoasse no chão <strong>de</strong> terra batida, ou então<br />

viesse da tosca estátua <strong>de</strong> um homem, no fun<strong>do</strong>: um homem <strong>de</strong> longos cabelos <strong>de</strong>sgrenha<strong>do</strong>s pelo<br />

vento, um raio numa mão e uma espada na outra, com uma expressão benevolente estampada no<br />

rosto.<br />

<strong>Adhara</strong> ficou petrificada na entrada, a mão na boca, os olhos arregala<strong>do</strong>s. Percebia que sob<br />

cada lençol <strong>de</strong>via haver uma pessoa, uma pessoa morta. Amhal, por sua vez, adiantou-se,<br />

curvan<strong>do</strong>-se sobre as mortalhas.<br />

– Eu lhe peço, vamos embora... – murmurou ela, mas o companheiro parecia não ouvi-la. Só<br />

parou quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>scobriu a quem pertenciam aqueles gemi<strong>do</strong>s.<br />

– Aqui!<br />

<strong>Adhara</strong> permaneceu imóvel, as pernas pareciam não querer obe<strong>de</strong>cer.<br />

Amhal virou-se.<br />

– Mexa-se!<br />

Ela moveu-se <strong>de</strong>vagar, os olhos fixos no chão para não roçar nos cadáveres nem mesmo com o<br />

olhar. Só levantou a cabeça quan<strong>do</strong> já estava perto <strong>de</strong> Amhal. No chão, aos seus pés, havia o que<br />

parecia ser uma mulher, <strong>de</strong> traços transtorna<strong>do</strong>s. Não dava para <strong>de</strong>terminar claramente a ida<strong>de</strong> e<br />

tampouco o sexo.<br />

A boca era o poço escuro <strong>do</strong> qual emergia aquele estertor ininterrupto, uma respiração<br />

ofegante e inatural que já sabia a morte. A testa estava molhada <strong>de</strong> suor, e a pele quase<br />

completamente coberta <strong>de</strong> manchas pretas, as que <strong>Adhara</strong> tinha visto nos sujeitos que a<br />

agrediram.<br />

Deu uns passos para trás.<br />

– Precisamos sair daqui.<br />

Amhal não respon<strong>de</strong>u.<br />

– Os <strong>do</strong>is que me agrediram... tinham as mesmas manchas, um <strong>de</strong>les estava passan<strong>do</strong> mal.<br />

Amhal observava fixamente o rosto da moribunda, o sangue que parecia escoar <strong>do</strong> seu corpo<br />

sofri<strong>do</strong>.<br />

– Amhal!<br />

O grito finalmente <strong>de</strong>spertou-o. Ficou <strong>de</strong> pé, ainda <strong>de</strong> olhos fixos na mulher. Deu uns passos<br />

para trás, o bastante para <strong>Adhara</strong> segurá-lo e arrastá-lo para fora dali.<br />

Correram no ar fresco, no tranquilo murmúrio <strong>do</strong> riacho, no ininterrupto cri-cri <strong>do</strong>s grilos.

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