Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
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– Mas seu pai estabeleceu regras. E a tortura não está incluída nelas.<br />
– Ninguém o torturou.<br />
– E o que é isto, então? – replicou San, indican<strong>do</strong> a marca preta no rosto. – E isto aqui? –<br />
Esticou o lábio incha<strong>do</strong>. – Vai dizer que só foi um <strong>do</strong>s seus guardas que se exce<strong>de</strong>u?<br />
Neor começava a ficar constrangi<strong>do</strong>.<br />
– Ainda que eu admitisse a minha culpa, mas dizen<strong>do</strong> que só confessei <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos maus-tratos,<br />
os juízes não acreditariam numa só palavra das minhas <strong>de</strong>clarações. Não, Neor, não é assim que<br />
levará a melhor comigo! – E voltou a sorrir. Um riso <strong>de</strong> vence<strong>do</strong>r.<br />
O rei quase sentiu-se atemoriza<strong>do</strong>.<br />
– Mas que diabo, quem é você?<br />
San esticou o corpo.<br />
– Sou a forma <strong>do</strong>s tempos vin<strong>do</strong>uros, sou o futuro. Sou uma nova raça <strong>de</strong> homem e, ao mesmo<br />
tempo, sou a memória <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Emerso. Sou diferente. – Voltou a reclinar-se, tranquilo.<br />
– É realmente ele? É realmente o San que meu pai conheceu?<br />
– Claro que sim. Só que quan<strong>do</strong> seu pai me conheceu eu não tinha consciência da minha<br />
verda<strong>de</strong>ira natureza. Mas o tempo passa, aprendi um montão <strong>de</strong> coisas sobre mim mesmo.<br />
– Por que veio ao palácio? Por que justamente agora?<br />
– Tinha uma missão a cumprir.<br />
– Que missão?<br />
San <strong>de</strong>u uma risadinha.<br />
– Já está pedin<strong>do</strong> <strong>de</strong>mais.<br />
Neor não conseguia levar a conversa para um patamar a ele mais congenial. Quem dava as<br />
cartas era aquele homem. Como podiam tê-lo recebi<strong>do</strong> em casa, tributan<strong>do</strong>-lhe as maiores<br />
honrarias, sem dar-se conta da sua alma negra?<br />
– E conseguiu cumpri-la?<br />
San ficou olhan<strong>do</strong> para ele por um bom tempo.<br />
– Se não a tivesse cumpri<strong>do</strong>, agora não estaria aqui falan<strong>do</strong> com você.<br />
Neor estremeceu <strong>de</strong> raiva.<br />
– Tinha <strong>de</strong> matá-lo, não é? Era o meu pai que você queria matar. Mira era apenas um<br />
empecilho, livrou-se <strong>de</strong>le porque tinha <strong>de</strong>sconfia<strong>do</strong> <strong>de</strong> alguma coisa. Era esta a sua maldita<br />
missão, eis a verda<strong>de</strong>...<br />
San riu <strong>de</strong>scaradamente. Só parou quan<strong>do</strong> o lábio voltou a sangrar.<br />
– A verda<strong>de</strong>... É incrível como as pessoas como vocês enchem a boca com esta palavra, quase<br />
como se fosse a única coisa que conta no mun<strong>do</strong>. Acontece, porém, que a verda<strong>de</strong> não nos torna<br />
livres, como ingenuamente pensam as pessoas normais. A verda<strong>de</strong> é uma jaula, a verda<strong>de</strong> é uma<br />
etiqueta que nos <strong>de</strong>fine, que nos torna escravos para sempre.<br />
– Não estou minimamente interessa<strong>do</strong> em seus <strong>de</strong>svarios! – gritou Neor, <strong>de</strong>bruçan<strong>do</strong>-se. –<br />
Matou ou não matou?<br />
San <strong>de</strong>u-se ao luxo <strong>de</strong> observá-lo longamente, com displicente superiorida<strong>de</strong>.