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Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

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E então, pouco a pouco, a mente <strong>de</strong> Amhal se acalmou. Porque era mais fácil acreditar na culpa<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> <strong>do</strong> que na <strong>do</strong> seu mentor, <strong>do</strong> homem que o guiara através das trevas das<br />

últimas semanas, que lhe <strong>de</strong>scortinara novos horizontes, que lhe abrira as portas <strong>de</strong> novos<br />

mun<strong>do</strong>s. Do contrário, teria <strong>de</strong> admitir que fizera tu<strong>do</strong> erra<strong>do</strong>, e não conseguia. Não podia.<br />

Passou a noite sem <strong>do</strong>rmir. Sentia-se prisioneiro: <strong>de</strong> si mesmo, <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>stino</strong>, das suas escolhas.<br />

Pensou no que fazer. Continuar como se nada tivesse aconteci<strong>do</strong>? Esperar pelo resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

processo? Voltar atrás, para uma impossível normalida<strong>de</strong>?<br />

Mas San era inocente, tinha <strong>de</strong> ser inocente! E era o seu mestre, no senti<strong>do</strong> mais profun<strong>do</strong>.<br />

A i<strong>de</strong>ia tomou forma na sua cabeça, pouco a pouco. Confusa, encontrou-a no formigamento que<br />

agitava seu corpo naquela noite sem paz. Abriu caminho entre os seus pensamentos, como uma<br />

cunha que lentamente penetra na mente.<br />

Ação. Como sempre, quan<strong>do</strong> a <strong>do</strong>r ficava intensa <strong>de</strong>mais, era preciso recorrer ao corpo. E a<br />

ação faria com que a <strong>do</strong>r se tornasse alimento da fúria.<br />

Ao alvorecer saiu da tenda. Mal dava para vislumbrar o sol acima <strong>do</strong> perfil pontu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

pinheiros. Uma bola flamejante que lhe lembrou o globo <strong>de</strong> fogo com que haviam <strong>de</strong>struí<strong>do</strong> a<br />

al<strong>de</strong>ia uns poucos dias antes. E então <strong>de</strong>cidiu o que fazer. Não iria per<strong>de</strong>r San como já ocorrera<br />

com Mira. Iria agarrar-se nele até o fim, acreditaria no homem que transformara a sua vida, que<br />

lhe mostrara quem realmente era.<br />

Iria salvá-lo.<br />

<strong>Adhara</strong> tampouco conseguiu <strong>do</strong>rmir naquela noite. Podia rever o rosto <strong>de</strong>sespera<strong>do</strong> <strong>de</strong> Amhal,<br />

ouvir as palavras <strong>de</strong> San, enquanto era leva<strong>do</strong> embora, e também tentava imaginar o que po<strong>de</strong>ria<br />

ter ocorri<strong>do</strong> no palácio. “Rei Neor.” Significava que Learco tinha morri<strong>do</strong>? E Amina, o que teria<br />

aconteci<strong>do</strong> com ela?<br />

A balbúrdia <strong>de</strong> pensamentos que se agitavam na sua mente impedia que pegasse no sono.<br />

Queria ir ver Amhal. Porque, agora que San não estava, talvez fosse a hora certa para levá-lo <strong>de</strong><br />

volta à razão, para <strong>de</strong>volvê-lo ao seu mun<strong>do</strong>. Mas também sabia que naquele momento ele<br />

precisava <strong>de</strong> silêncio e solidão. Para meditar sobre o que acontecera, para aceitar aquela i<strong>de</strong>ia<br />

que até ela achava terrível: que San pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong> fato ser o artífice da morte <strong>de</strong> Mira. De repente,<br />

aquilo já não lhe parecia tão absur<strong>do</strong>. Aquele homem tinha facetas ocultas e aterra<strong>do</strong>ras que, por<br />

alguns momentos, ela chegara a vislumbrar. E o seu apego mórbi<strong>do</strong> a Amhal, a maneira com que<br />

logo o cercara sem <strong>de</strong>ixar-lhe espaço, sem largá-lo um só momento. Des<strong>de</strong> que ele chegara,<br />

Amhal havia muda<strong>do</strong>, quase como se tivesse si<strong>do</strong> envenena<strong>do</strong>. Neste aspecto, a morte <strong>de</strong> Mira só<br />

tinha vin<strong>do</strong> a calhar para San: <strong>de</strong>ixara-lhe o campo livre, permitira que expandisse o seu <strong>do</strong>mínio<br />

até a alma <strong>de</strong> Amhal.<br />

É isto que ele quer, ele quer Amhal!, murmurou a sua voz interior, e a banalida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>scobrimento <strong>de</strong>ixou-a totalmente transtornada. Tinha si<strong>do</strong> tão claro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo, e ela não<br />

percebera. Aquele homem queria Amhal! Desconhecia a razão, <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>scobri-la, mas <strong>de</strong><br />

algum mo<strong>do</strong> precisava <strong>de</strong>le, necessitava da sua fúria, da sua <strong>do</strong>r.<br />

Esperou o sol nascer. Levantou-se mais ce<strong>do</strong> que <strong>de</strong> costume e foi à tenda <strong>de</strong> Amhal, com o<br />

coração que parecia pular fora <strong>do</strong> seu peito. Sentia, <strong>de</strong> alguma forma, que <strong>de</strong>sta vez chegariam a<br />

um acerto <strong>de</strong> contas.<br />

Ele ainda estava lá, moven<strong>do</strong>-se frenético enquanto amontoava suas coisas numa mochila.

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