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Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

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Preciso investigar.<br />

– Talvez.<br />

Theana levantou-se com dificulda<strong>de</strong> e man<strong>do</strong>u <strong>Adhara</strong> sentar-se <strong>de</strong> novo. Precisava tentar.<br />

Procurar aquelas recordações. Talvez aquela fosse a chave <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>. Pois mais uma vez um<br />

obscuro temor invadia seu coração, a lembrança da hora mais sombria que o culto <strong>de</strong> Thenaar<br />

vivenciara <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos da Guilda <strong>do</strong>s Assassinos, a seita que pervertera a sua natureza.<br />

Foi até um armário, abriu-o e procurou aquilo <strong>de</strong> que precisava. Ervas, pós, uma vasilha. Tirou<br />

um graveto da faxina <strong>de</strong> ramos <strong>de</strong> bétula presa à parte interna da porta e começou a rezar em<br />

silêncio. Continuou a salmodiar enquanto preparava a mistura que iria utilizar. Percebia a<br />

perplexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Adhara</strong>, a sua preocupação. Não parou <strong>de</strong> rezar até sentir que a força <strong>do</strong> <strong>de</strong>us se<br />

apo<strong>de</strong>rava <strong>de</strong>la. Então, achou que estava pronta.<br />

Seguran<strong>do</strong> a tigela e o graveto <strong>de</strong> bétula, sentou-se ao la<strong>do</strong> da jovem.<br />

– Tentarei um encantamento para explorar as suas recordações. Quanto a você, só procure<br />

relaxar e <strong>de</strong>ixar o resto comigo. Confia em mim?<br />

– Confio.<br />

Por um instante, Theana percebeu um liame com aquela jovem, alguma coisa profunda que tinha<br />

a ver com Thenaar, mas a sensação dissolveu-se tão rápi<strong>do</strong> quanto surgira.<br />

– Deixe-me segurar seus braços. – Ela obe<strong>de</strong>ceu.<br />

Iniciou com a costumeira lengalenga, uma lenta ladainha hipnótica, molhou o ramalhete na<br />

mistura e, com a ponta, foi traçan<strong>do</strong> rabiscos na pele <strong>de</strong> <strong>Adhara</strong>. Partiu <strong>do</strong> pulso, diáfano, e subiu<br />

acompanhan<strong>do</strong> as linhas azuladas das veias. Primeiro, <strong>de</strong>teve-se nos cotovelos e, <strong>de</strong>pois, seguiu<br />

o traça<strong>do</strong>, até os ombros. Começou então a <strong>de</strong>senhar umas figuras. Ao mesmo tempo, a sua mente<br />

abria-se àquela da jovem.<br />

Passou para o outro braço, reforçan<strong>do</strong> o liame místico que estabelecera com ela. Quan<strong>do</strong><br />

chegou à última voluta, no ombro esquer<strong>do</strong>, soltou uma nota aguda e vibrante. O mun<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sapareceu <strong>do</strong> horizonte da sua visão, e só ficou a mente <strong>de</strong> <strong>Adhara</strong>. Um lugar cheio <strong>de</strong><br />

impressões marcadas, <strong>de</strong> percepções violentas, todas ligadas ao passa<strong>do</strong> mais imediato. Theana<br />

não podia distinguir claramente aquelas lembranças, mas percebia as sensações a elas<br />

relacionadas. Mergulhou mais fun<strong>do</strong>, <strong>de</strong>scen<strong>do</strong> além da superfície da consciência. Lá só havia<br />

uma extensão branca e <strong>de</strong>smedida, um <strong>de</strong>serto <strong>de</strong>spoja<strong>do</strong> <strong>de</strong> sentimentos e recordações. Como a<br />

mente <strong>de</strong> um recém-nasci<strong>do</strong>, como se <strong>de</strong> fato não houvesse coisa alguma a ser lembrada.<br />

Será possível que tenha nasci<strong>do</strong> lá, naquele grama<strong>do</strong>?<br />

Em seguida alguma coisa mal<strong>do</strong>sa, um surto <strong>de</strong> ódio profun<strong>do</strong>, e <strong>do</strong>r, muita <strong>do</strong>r, terrível e<br />

intensa. Sangue, me<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sespero. E um grito, incessante, monstruoso, infinito. Theana sentiu-se<br />

sugar por ele e, sem qualquer lugar on<strong>de</strong> se agarrar, precipitou-se à mercê <strong>de</strong> um terror arcano.<br />

Quan<strong>do</strong> se recobrou, estava <strong>de</strong>itada no chão, e diante <strong>de</strong>la só aparecia o teto abaula<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

aposento e o rosto preocupa<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Adhara</strong>.<br />

– A senhora está bem?<br />

Levantou-se lentamente, sem conseguir disfarçar sua expressão preocupada.<br />

– Estou – disse após alguns segun<strong>do</strong>s. – Sim, estou bem.

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